::: A Teoria do Pote :::
Laura Pires
Relacionamento requer boa vontade. É preciso entender que pessoas são diferentes e dão graus diferentes de importância às coisas. Algo que não significa nada pra você e às vezes nem passa pela sua cabeça pode ser muito importante pra outra pessoa e vice-versa. É preciso querer entender essas diferenças e respeitá-las.
Quando conheci meu namorado, muito antes de me interessar por ele, ele era casado. Um dia, em grupo, alguém falou que “mulher adora pote”. E ele disse que sim, que a esposa dele vivia reclamando que ele perdia potes. Contou que jogava futebol todo domingo e levava pão de alho num pote. Às vezes, esquecia de levar o pote de volta pra casa e pra sempre estava perdido o pote. Ela reclamava e ele não entendia por quê:
— Cara, é só um pote. Com dois reais você compra outro no Mercadão de Madureira!
Todos riram e concordaram. Onde já se viu ligar tanto pra um pote? Na época, não tínhamos intimidade nenhuma e por isso fiquei quieta.
Corta para o nosso segundo encontro, meses depois. Em algum momento, nos lembramos da história do pote. Falei:
– Olha, eu não quis dizer nada antes, porque não quis me meter, mas posso falar? Você tá errado.
– Como eu tô errado?! É só um pote! — Ele estava inconformado. Prossegui:
– Pra você é só um pote. Pra ela não é. Não interessa que você pode comprar outro com facilidade depois e repor, não interessa que é barato. O que interessa é que ela te pedia o pote de volta e você nunca lembrava. Era algo importante pra ela. E você viver esquecendo o pote mostra que você não dava importância pro que era importante pra ela. Você não precisa concordar que o pote é importante, você não precisa entender por que o pote é importante. Mas, se uma pessoa que você ama acha algo importante, você faz a gentileza de dar importância também.
Ele ficou embasbacado. De lá pra cá, lembramos sempre da história do pote. Somos pessoas muito diferentes, então é muito útil lembrar disso: mesmo não entendendo certas coisas um do outro, se nos amamos, devemos respeitar e agir de acordo.
É aquela história clássica da toalha molhada em cima da cama. Tudo começa como um pequeno incômodo: você não gosta que a toalha molhada fique largada em cima da cama e seu/sua companheiro/a vive esquecendo de colocá-la no lugar. Com o tempo, são tantas vezes que você tem que reclamar — ou desistir — disso, que deixa de ser sobre a toalha e passa a ser sobre a pessoa não te ouvir, não tentar te agradar, não dar atenção ao que você quer etc. Isso se torna um poxa, que que custa botar a toalha no lugar, sabendo que vai me aborrecer deixar em cima da cama, que facilmente leva a um ele/a não liga pra mim.
Talvez isso esteja soando dramático e categórico demais. Não quero dizer que esquecer das coisas significa que não ama de verdade. O que estou dizendo é que um esforço mínimo para se lembrar de coisas que são importantes para a pessoa com quem você se relaciona — e não apenas das que são importantes para você — pode melhorar muito a qualidade de um relacionamento. Fazer pela pessoa o que ela acha importante, mesmo que você não ache, é uma forma crucial de cooperação — e evita muita dor de cabeça. É uma questão de fazer a pessoa perceber que você se importa com o que ela pensa, sente, quer, prefere.
Esquecer os potes toda semana só porque não concorda que potes importam é toda semana passar por cima dos sentimentos de quem não queria perder esses potes. Imagina o desgaste que é, toda semana, não se sentir ouvida/o.
Nenhuma relação sobrevive se você não se preocupa em lembrar dos potes.
segunda-feira, novembro 12, 2018
quinta-feira, outubro 04, 2018
::: A Tainha e a Barracuda :::
Andrew Matthews
Ao alegar suas limitações, as pessoas dizem: “eu não posso fazer tal coisa porque…” E, a desculpa comum é do tipo – "é assim que eu sou". Mas, a verdade mais provável é: "é assim que eu penso que sou". Nós podemos aprender sobre nossas crenças estudando os peixes… Compre um aquário e divida-o pela metade com uma parede de vidro transparente. Depois arranje uma tainha e uma barracuda – peixe que come tainha. Ponha cada um de um lado e, no mesmo instante a barracuda vai avançar para pegar a tainha só que… bumba!… entra de cara na parede de vidro. Ela vai recuar e atacar outra vez e… bumba!… Em uma semana a barracuda vai estar com o nariz bem inchado e, percebendo que caçar tainha é sinônimo de dor, acaba desistindo. Aí, removendo a parede de vidro sabe o que acontece? Ela passará o resto da vida no seu lado do aquário; será até capaz de morrer de fome, mesmo tendo uma bela tainha nadando a poucos centímetros dela. Ma
s como conhece seus limites não vai ultrapassá-los. A história da barracuda é triste? É...sim. Pois essa é também a história de todo ser humano.
Nós não colidimos com paredes de vidro, mas colidimos com professores, pais, filhos, amigos que nos dizem o que nos convém e o que podemos fazer. Pior ainda, colidimos com nossas próprias crenças – são elas que delimitam nosso território, é isso que alegamos para não ultrapassar os limites… Ou seja, criamos nossas gaiolas de vidro e pensamos que é realidade. Na verdade é apenas aquilo em que nós acreditamos… Quase todos nós temos uma história, e nos rotulamos… "eu sou professor", "eu sou avó", "eu sou mãe", "eu sou marido", eu sou…eu sou...eu sou...isto ou aquilo, eu sou... Essa nossa história é como um programa de computador instalado entre nossas orelhas, que nos controla a vida… Nós o levamos ao trabalho, nas viagens de férias, nas festas… enfim passamos a vida tentando nos adaptar à história… Tentar ajustar-se a uma história torna qualquer um infeliz… Eis então a dica: você não é a sua história e ninguém dá a mínima para isso. Você não pertence a uma categoria, a um compartimento. Você é um ser humano justamente porque tem uma série de experiências. E, quando você parar de arrastar uma história por aí, você vai ser muito mais feliz.
Andrew Matthews
Ao alegar suas limitações, as pessoas dizem: “eu não posso fazer tal coisa porque…” E, a desculpa comum é do tipo – "é assim que eu sou". Mas, a verdade mais provável é: "é assim que eu penso que sou". Nós podemos aprender sobre nossas crenças estudando os peixes… Compre um aquário e divida-o pela metade com uma parede de vidro transparente. Depois arranje uma tainha e uma barracuda – peixe que come tainha. Ponha cada um de um lado e, no mesmo instante a barracuda vai avançar para pegar a tainha só que… bumba!… entra de cara na parede de vidro. Ela vai recuar e atacar outra vez e… bumba!… Em uma semana a barracuda vai estar com o nariz bem inchado e, percebendo que caçar tainha é sinônimo de dor, acaba desistindo. Aí, removendo a parede de vidro sabe o que acontece? Ela passará o resto da vida no seu lado do aquário; será até capaz de morrer de fome, mesmo tendo uma bela tainha nadando a poucos centímetros dela. Ma
s como conhece seus limites não vai ultrapassá-los. A história da barracuda é triste? É...sim. Pois essa é também a história de todo ser humano.
Nós não colidimos com paredes de vidro, mas colidimos com professores, pais, filhos, amigos que nos dizem o que nos convém e o que podemos fazer. Pior ainda, colidimos com nossas próprias crenças – são elas que delimitam nosso território, é isso que alegamos para não ultrapassar os limites… Ou seja, criamos nossas gaiolas de vidro e pensamos que é realidade. Na verdade é apenas aquilo em que nós acreditamos… Quase todos nós temos uma história, e nos rotulamos… "eu sou professor", "eu sou avó", "eu sou mãe", "eu sou marido", eu sou…eu sou...eu sou...isto ou aquilo, eu sou... Essa nossa história é como um programa de computador instalado entre nossas orelhas, que nos controla a vida… Nós o levamos ao trabalho, nas viagens de férias, nas festas… enfim passamos a vida tentando nos adaptar à história… Tentar ajustar-se a uma história torna qualquer um infeliz… Eis então a dica: você não é a sua história e ninguém dá a mínima para isso. Você não pertence a uma categoria, a um compartimento. Você é um ser humano justamente porque tem uma série de experiências. E, quando você parar de arrastar uma história por aí, você vai ser muito mais feliz.
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