domingo, dezembro 12, 2010

::: Eu preciso saber :::
Tati Bernardi

A recaída de amor acontece como num daqueles pesadelos que se está caindo. De repente você acorda sentado na cama: Meu Deus, eu preciso saber! Mas se eu já estava tão bem há semanas. Volte a dormir, volte a dormir. Você já tinha decidido lembra? Nada a ver com você, chato, bobo, não deu certo. Mas eu preciso saber. Não, não precisa. Pra quê? Vai te machucar. Não! Eu preciso saber. Então levanto da cama.
Facebook, a desgraça em formato de parquinho virtual. Nome dele, aparece a foto azulada e ele de perfil. É tão bonito. Mas não há mais nada que eu possa ver. Nos deletamos mutuamente pra evitar justamente esse tipo de inspecão noturna.

Mas isso não vai ficar assim. Ligo pra nossa amiga em comum. Ela não atende, afinal, são duas da manhã. Mando mensagem "me manda sua senha do Facebook agora ou vou ficar te ligando até amanhã cedo". Ela manda a senha e um palavrão. Acesso. Vamos ver. Eu preciso saber. Eu preciso. Então vejo que ele não posta nada há cinco semanas. Fotos, fotos. A única foto nova é o flyer de uma festa que eu fui e ele não estava. Nada.

Jogo o nome dele no Google. Aparece uma foto dele alcoolizado dando entrevista em uma festa de mídia. Como é lindo. Tento o Twitter mas ele só escreve piada de político. Tento o Facebook, Twitter e blogs de amigos. Está ficando tarde. Se eu tivesse essa mesma concentração e minuciosidade e empenho e energia para o trabalho estaria rica. Estou retesadamente motivada e atenta. Mas não consegui nenhuma informação e eu ainda preciso saber.

São seis da manhã. Estou cansada. Coloco a música de quando você forçou a porta do quarto e entrou. Black Swan. Não sou boa de inglês como você, mas sei que é a história de algo que já começou fodido porque cresceu demais antes da hora, você que pegue um trem e suma daqui. Que bela música pra começar. Ok, agora estou chorando. Lembrei que eu me sentia tão viva com você me olhando bem sério e bem no fundo dos olhos e machucando meu braço. Sim, é definitivamente uma recaída e eu acabo de decidir que te amo mais que tudo no universo e que amanhã, ou hoje, porque já são sete e meia da manhã, vou resolver isso. Agora preciso dormir só um pouquinho.

Volto pra cama. Coração disparado. Não tem posição na cama. O que eu faço? Não tô a fim de ler, não tô a fim de ver TV. Aquelas outras coisas que se faz pra acalmar tô com preguiça agora, minha imaginação está indo toda para traçar um plano para que eu descubra. Descubra o quê? Não sei, mas sei que algo está acontecendo, ou eu não estaria assim. Porque eu sinto quando ele está com alguém, sabe? Eu sinto. Sim! A cartomante!

Ligo pra Zuleide. Você atende hoje? Mas é domingo, Tati! Atende? Só se for por telefone. Tá bom, então joga aí: ele está com alguém? Mas Tati, você quer mesmo saber isso? Quero, mulher. Eu preciso saber. Joga aí: ele está com alguma puta? Tati, eu não posso perguntar isso pras cartas. Pergunta aí: ele tá com alguma piranhuda desgraçada vagabunda vaca dos infernos? Zuleide pede desculpas e desliga. Preciso do Lexapro mas ele acabou há semanas, igual meu amor. E agora, de repente, preciso tanto dos dois novamente.

Você acha que ele está com alguém? Não sei, Tati, eu ainda tô dormindo, posso te ligar mais tarde? Você acha que ele está com alguém? E se estiver, Tati, quer ir ao cinema mais tarde? Você acha que ele está com alguém? Putz, sei lá, homem sempre tá comendo alguém né? Você acha que ele está com alguém? Tati, do jeito que ele gostava de você? Claro que não!

Chega, chega. Preciso me acalmar. Pra que isso? Se ele estiver com alguém agora, e daí? Terminamos não terminamos? Ele e eu não temos nada a ver, certo? Decidimos que era melhor assim, certo? Eu não tava bem com ele e nem ele comigo, certo? Porque era bom e tal. Aliás, meu Deus, como era bom. Mas não era bom pra ficar junto, certo? Então pronto. Chega. Adulta, adulta. Qual o problema se ele estiver agora, justamente agora, lambendo a virilhazinha de alguma desgraçada? Qual o problema? Ok, eu posso morrer. Eu definitivamente posso morrer. Chega, vou acabar com essa palhaçada agora mesmo.

Tomo banho, me visto, pego a bolsa, entro no carro. Considerando que ele não mora em São Paulo, não sei exatamente o que eu pretendo com isso. Mas me faz bem enganar o cérebro e fazer de conta que estou indo atrás da verdade. Na verdade vou só na casa de outro, preciso fazer qualquer coisa que não seja sofrer, mas não consigo. O outro não conhece Black Swan, não ri da história da Zuleide, não me aperta o braço.
Volto pra casa, destruída. Sinto tanto amor dentro de mim que posso explodir e bolhas de corações vermelhas atingiriam o Japão. Quase não consigo respirar. Chega, chega. Ligo pra ele. Ele não atende. Ligo de novo. Ele atende falando baixinho. Você está com alguém? Estou. Desligamos. Pronto, agora eu já sei.
Depois de um final de semana inteiro de palpitacões, descargas de adrenalina, músicas, textos, amigos, danças, gritos, sensações, assuntos, choros, dores, vida. Agora eu já sei.
O que eu nunca vou saber é porque faço tudo isso comigo só porque tenho tanto pavor do tédio. Era só isso o que eu precisava saber.

domingo, novembro 21, 2010

::: Sozinha :::
Sandra de Sá

Às vezes no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
E fico ali sonhando acordada, juntando
O antes, o agora e o depois

Por que você me deixa tão solta
Por que você não cola em mim
To me sentindo muito sozinha
Não sou nem quero ser sua dona
É que um carinho às vezes cai bem

Eu tenho os meus desejos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém
Por que você me esquece e some
E se eu me interessar por alguém
E se ele de repente me ganha

Quando a gente gosta claro que a gente cuida
Fala que me ama só que é da boca pra fora
Ou você me engana ou não está maduro
Onde está você agora?

domingo, novembro 07, 2010

::: Ciranda da Bailarina :::
Adriana Calcanhotto

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga,
tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Verruga nem frieira
Nem falta de maneira ela não tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem
um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida ela não tem
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem
um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem,
todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem

domingo, outubro 24, 2010

::: Dona Cila :::
Maria Gadú


De todo o amor que eu tenho
Metade foi tu que me deu
Salvando minh`alma da vida
Sorrindo e fazendo o meu eu

Se queres partir ir embora
Me olha da onde estiver
Que eu vou te mostrar que eu to pronta
Me colha madura do pé

Salve, salve essa nega
Que axé ela tem
Te carrego no colo e te dou minha mão
Minha vida depende só do teu encanto
Cila pode ir tranquila
Teu rebanho tá pronto


Teu olho que brilha e não para
Tuas mãos de fazer tudo e até
A vida que chamo de minha
Neguinha, te encontro na fé

Me mostre um caminho agora
Um jeito de estar sem você
O apego não quer ir embora
Diaxo, ele tem que querer

Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
Vai chegar a rainha
Precisando dormir
Quando ela chegar
Tu me faça um favor
Dê um banto a ela, que ela me benze aonde eu for

O fardo pesado que levas
Desagua na força que tens
Teu lar é no reino divino
Limpinho cheirando alecrim

terça-feira, outubro 19, 2010

::: Caleidoscópio :::
Paralamas do Sucesso


Não é preciso apagar a luz
Eu fecho os olhos e tudo vem
Num Caleidoscópio sem lógica
Eu quase posso ouvir a tua voz
Eu sinto a tua mão a me guiar
Pela noite a caminho de casa...

Quem vai pagar as contas
Desse amor pagão
Te dar a mão
Me trazer à tona prá respirar
Vai chamar meu nome
Ou te escutar...

Me pedindo prá apagar a luz
Amanheceu é hora de dormir
Nesse nosso relógio sem órbita
Se tudo tem que terminar assim
Que pelo menos seja até o fim
Prá gente não ter nunca mais
Que terminar...

domingo, outubro 17, 2010

::: A tristeza permitida :::
Martha Medeiros

SE EU DISSER PRA VOCÊ QUE HOJE acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que normalmente faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair para compras e reuniões — se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem para sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?

Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer para eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa?
Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro da nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.

Depressão é coisa muito mais séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou com si mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente — as razões têm essa mania de serem discretas.

“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago de razão/ eu ando tão down...”. Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar o seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de
quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinicius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip hop, e nem por isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor — até que venha a próxima, normais que somos.

quinta-feira, outubro 07, 2010

::: Acabou :::
Tati Bernardi

Nunca me conformei com o fim de nada. Por mais que eu sentisse que era a hora. Por mais que eu quisesse ou precisasse me livrar das coisas. O “acabou” sempre chega ou chegou como se eu jamais tivesse parado pra pensar nele. Cruel, terrível e doloroso além de mim.

O último dia em qualquer coisa que tenha durado tempo suficiente pra me fazer dormir sorrindo com o dia seguinte. Um emprego, um curso, uma casa, uma viagem especial, um relacionamento. O último dia do ano. Sempre tristes, sempre cheios de momentos em que eu preciso me isolar e ficar de um quase desespero catatônico. Uma vontade de sair correndo sem me mexer. Um pavor calmo e, pra quem nada entende de espasmos assustados, até sorridente. Abaixar e abrandar tudo em mim que ainda se debate pra continuar onde estava. Subindo loucos para a minha testa, todos eles. Mas quem são esses eles que sobem pra minha testa? Um mal estar em velar a vida que acabou pra poder continuar. Uma mistura caótica de enterro com nascimento, tipo se apaixonar.
Dez pra meia noite meus amigos já estão um pouco bêbados e os fogos começam nas praias próximas. A praia em frente à casa está linda e o teto cheio de bexigas brancas. Meus amigos cheiram bem. Digo, por causa do banho. Eu sumo. Desapareço. E começam as piadinhas “deixa, ela é assim mesmo”. Uma coisa horrorosa me assusta e eu quero algo que não é nem a minha mãe e nem a minha cama e nem a minha casa. Olho meu carro na garagem da casa e tenho um segundo de alívio. Ainda existe ir embora. Mas da onde? Eu sempre querendo ir embora. Mas pra onde? Quero um colo e um quente e um ombro que nunca conheci. Não é de homem, de amor, de força. O que é isso? Um enjoado que não faz passar mal. Um frio que não precisa de agasalho. Uma necessidade absurda de ir para um lugar que eu nem imagino qual seja. Uma saudade de vida inteira como se eu já tivesse vivido. Uma coisa enorme e ao mesmo tempo concentrada naquela picadinha de inseto atrás do meu joelho que incha e incomoda do tamanho do mundo. Uma angústia que estremece até aqueles cantos da gente que a gente passa batido. Uma coisa de cantos e não de peitos. Mas que acaba com o oxigênio.

Sento sozinha onde a vista é mais bonita. Aperto meu celular. Pra quem eu quero ligar? Quem? Ninguém. Não é saudade de gente essa coisa. Não é coisa que passa de ouvir voz ou desejo ou coisas bonitas. Então passa com o quê? Chama a Tati que vai dar meia noite. Não, deixa ela. Ela é assim mesmo. É “tipo” isso que ela faz? É e não é. É saudade da família, do cara, da cachorra? Não, ela é assim. Escuto os outros e enquanto isso acontecer, não vai passar. Preciso me escutar. Mas não tenho nada pra me dizer. Só esse vão dos pensamentos. Só esse intervalo de motivos. Só a soneca merecida do carrasco que mora no centro da minha cabeça. Só o momento alienado das listas. Esse bueiro vazio embaixo da vida. Essa falha da linha embaixo do que se tem a dizer. Esse nada que caio, de vez em quando, e que também não tem nada pra me dizer a não ser que o mistério também faz parte. Assim que eu me sentir mais leve, simplesmente saio dele, sem nada concluir. Não dá pra forçar, levar um choque de voltar pra superfície. Só o que existe é enfrentar esse algo que jamais soa como algo a ser enfrentado, já que não é nada.

Coloca aí a sinfonia número 5 para eu chorar? Quando meu pai me leva, aos domingos, para ver concertos, fico torcendo pra ter essa porque ela sempre explica, de alguma maneira, o fim das coisas. Não é de morte, mas é de morrer. Entende? Coloca? Não, Tati. Ninguém tem isso aqui, tá louca? A gente vai colocar o Asa de águia. Oi? É. E eu mais uma vez me pergunto porque saio de São Paulo no dia que mais tenho pânico de todos os dias do ano. Mas se eu contar pra alguém, vão me mandar pra médicos e remédios e curandeiros. Como se tivesse solução pra ter nascido. Ninguém entende nada. Então só me afasto e aperto o celular. Não quero nada e nem ninguém. Aperto apenas pra lembrar que existe, ainda, uma lista de querer dentro de mim. Que uma hora volta. Daqui a pouco eu volto e tudo volta.

A virada do ano. Estamos todos morrendo! Quero correr pela praia. E gritar. Fodeu galeraaaaaa! Estamos todos morrendo! Acabou. Ta acabando. Vai acabar. E isso é...putz, e isso é tão lindo que eu queria poder, agora, amar demais tudo e todos. Amar daquele jeito perfeito que dura um segundo e não quer nada em troca. Amar com meu caminhão da Granero. Do jeito enorme e grosseiro e Zona Leste que sei. Mas não faço nada disso, apenas rebolo, como se eu fosse mais uma ovelha do rebanho feliz, ao som do Asa de águia. E é como se o diabo me filmasse para eu saber, pra sempre, o quanto me traio pra jamais sucumbir a minha estranheza. O quanto deixo de assustar os outros com a minha maluquice e me assusto com a maluquice dos outros em mim. Rebolo pra dar de presente ao mundo minha presença, ainda que nem eu possa senti-la nessas horas.

Acabou. O ano virou. Daqui a pouco, todos estarão tão bêbados que eu poderei ser estranha ou infeliz ou bizarra ou nula como bem entender. Talvez ir dormir, por exemplo. Ou fazer coco. E poderei me libertar dessa obrigação pavorosa de estar feliz e simpática e emanando coisas boas. A ditadura da felicidade. Ano Novo é que nem o Rio de Janeiro. O Hugo Chávez da alegria. Eu quando fico estranha, quando tenho o “troço” que me dá, a última coisa que quero é um abraço. Agora imagina ficar estranha todo ano novo, a data dos abraços. Socorro.

As quatro da manhã, em meio a bexigas estouradas, gente caída, bocejos e I-pods descarregados, sinto a alegria vindo como um orgasmo daqueles que sabemos fortes porque se aproximam tímidos e ainda machucados. Canto bem alto. Danço. Abraço os restos das pessoas espalhados pelos restos da festa. Agora é a minha vez. Enquanto todos acabam de comemorar o final do ano, começo a comemorar o final da comemoração de final de ano. Ufa! Acabou! Acabou o Natal e o ano novo! Ufa! Agora que não precisa ser feliz, posso ser feliz em paz. Agora que não precisa ter energia, esbanjo minha falta de limite. Quero correr pela praia. Estamos todos vivos. Galeraaaaaa estamos vivooooos! Ufa! Acabou! Acabooooou! É isso. Não sei ser feliz com os finais que chegam. Mas sempre dou um jeito de me divertir quando sou eu que, apesar de tudo, chego até o fim.

sábado, outubro 02, 2010

::: A espera :::
Tati Bernardi

Atrás da pista tem um bar e atrás do bar tem um sofá. Estou sentada nesse sofá. Aguardo ansiosa por algo, olho as horas no celular, checo o e-mail pelo Iphone, reclamo com minha amiga “tá demorando”. Ela me pergunta se é o show, se é a menina passar com a comida. O que é? Não sei. Mas tá demorando. Em cima do bar, no teto, tem um daqueles globos que sempre tem. Olho pro globo e penso que estou uma eternidade sentada naquele sofá. Mais de trinta anos? Descanso os cotovelos nos joelhos e me arrependo, enquanto todos querem ver e ser vistos, eu fico nessa posição feia de vaso sanitário. Minha amiga vai fumar. Eu me animo “já tenho pra onde ir”. Eu não fumo, eu odeio cigarro, eu odeio atravessar a festa inteira pra chegar até lá fora, eu odeio a amizade instantânea das rodinhas de fumantes que não se conhecem, eu odeio festas em geral, eu odeio papos de festa, eu odeio conhecer gente que não tem nada a ver comigo, e sorrir para os papos mais furados do mundo. Mas eu já tenho pra onde ir. E vou. E ao chegar lá fora, continuo achando que está demorando. Sinto falta do sofá agora. Mas quando minha amiga acabar o cigarro, eu já terei novamente pra onde ir. E assim uma festa chata me lembra muito a vida. A eterna oscilação entre ir lá fora ver e voltar pro sofá, sempre só pra ter pra onde ir. Chegou agora um ex amor. Ele entra com sua esposa. Ele me abraça enquanto ela segue em frente sem olhar pra trás. Faz aí uns 3 ou 4 anos que não damos um abraço. A gente sempre fugia das festas pra fazer sacanagem no carro dele. Não sinto saudade. Passou, faz tempo, não sinto nada. Nada. Talvez só sinta mais claro o que eu já sentia antes. Antes de sair de casa. Antes de ficar indo do fumódromo pro sofá e vice-versa. Eu só sinto agora, com esse abraço que não me fez sentir nada, com mais clareza, o que eu já sentia antes e muito antes de antes. Eu sinto que está demorando. Eu olho de novo no celular. Eu posso ir ao banheiro e isso já é um lugar para ir. Me animo. Não, não me animo. Tudo me deprime. Eu ficar chupando a barriga pra dentro pra esconder que tenho um pouquinho de pança, eu ficar me equilibrando no salto, eu ficar fazendo minha cara de “não encosta em mim”. Tudo me deprime. As pessoas falando de trabalho, as pessoas forçando falar qualquer absurdo só porque o óbvio seria falar de trabalho. E principalmente: o grupinho de moças muito altas e muito loiras que não trabalham mas estão lá porque estar nesses lugares é o trabalho delas. Tudo é tão chato mas eu fiz cabelo e maquiagem. Antes da meia noite não dá pra ir embora. Preciso me gastar um pouco pra não dormir tão antes de tudo dar errado. Eu sei, eu deveria beber. Mas pra quê? Pra achar essas pessoas legais? Pra suportar o insuportável? Sou cínica demais pra dar esse gostinho ao mundo. E eis que adentra à festa o rapaz que, não faz nem uma semana, me pedia que eu não fosse ainda, só mais um pouquinho, espera amanhecer, porque, depois, você sabe, dá tanto sono. De mãos dadas com a moça que vive dando entrevista dizendo que eles se comem mesmo, o tempo todo. E isso não me dói em nada. Foi só um moço muito bonito que durou uma semana. Mas ele também reforça meu pé inquieto batendo ritmadamente: será que demora? Não sei. Não, não demora mais. Olho pra porta e ele acabou de chegar. Eu fui na festa por causa dele. Então era isso, eu tava esperando o tal do moço que me convidou pra festa. E então ele fala comigo e encosta um pouco em mim e eu penso em ser muito honesta. Olha, fulano, eu acho tudo isso um saco, sabe? Eu odeio a cordialidade dos bichos. Todo mundo se elogia, fala de trabalho, conhece gente, faz piadinha ruim. Mas tá todo mundo pensando o que vai ter pra comer e também pra comer. Eu vim aqui porque, sei lá, desde que te vi na reunião e eram oito da noite e você estava muito cansado mas, mesmo assim, você estava muito cheiroso e falou coisas muito inteligentes, eu fiquei a fim de te beijar na boca. Então, dá pra pedir pra esse bando de amigo chato, que fica puxando seu saco, desaparecer do mapa? A menina com a perna gorda pode, por favor, nos deixar em paz? Você pode, por favor, parar de mexer no cabelo da minha amiga e parar de dar risadinha no ouvido dela e sumir daqui comigo? Não, ele não pode. Ele não é a resposta. Ah, Tati. Você deveria saber. Eles nunca são a resposta. Nunca foram. Que é que você quer? Por que você olha tanto pro celular? Existe alguém no mundo, nesse momento, que poderia te ligar agora e te deixar feliz? Não. Ninguém é a resposta. Nem o sofá, nem a festa, nem ficar em casa, nem a água com gás, nem olhar com nojo para o grupo de piriguetes vips que não prestam pra nada a não ser frequentar festas para sair em revistas e angariar empresários. Finalmente já tenho o que esperar: o carro. Finalmente já tenho o que fazer: ir embora. Na verdade a única coisa que estou sempre esperando e querendo é ir embora. De todos os lugares, de todas as pessoas. Eu não estou esperando nada a não ser o tempo todo sair de onde eu estou.

terça-feira, setembro 28, 2010

::: Se você quisesse saber :::
Tati Bernardi

Eu tenho vontade de te contar tantas coisas. Mas você não sabe como dói e como é solitário ser gente. Gente tem mais é que guardar esses absurdos. Ontem, por exemplo, eu estava no avião, indo pra tal da palestra que eu te contei que tinha em Porto Alegre, e o medo voltou. Sabe o que eu fiz? Peguei um caderninho que sempre levo comigo e anotei tudo o que o medo queria me dizer. Fiquei besta de ver que se ele queria me dizer alguma coisa, ele não era exatamente eu. Era só o medo. Olhei o Rivotril que minha mãe colocou na minha bolsa e aquilo não me pareceu nenhuma solução. Eram apenas duas coisinhas brancas e pequenas num recortinho de embalagem. Duas coisinhas que jamais terão o tamanho de tudo isso que tem aqui dentro. Eu senti meus pés tão fortes e meu rosto tão corado. Eu gostei de mim e da vida como não gostava há muito tempo. A vida soprou no meu ouvido para eu parar com essa coisa de não me dar comida e não me dar confiança. E isso é idiota mas quis muito que você fosse o único a saber.

Queria te contar, também, que na hora da palestra me deu tanto medo de desmaiar no meio da fala que tomei dois copos inteiros de guaraná. Mas na hora mesmo, de falar, eu lembrei de você me dizendo que ansiar ou sentir assim a vida pode fazer as palavras assumirem um poder mais mágico e, acho que porque gostei do que você falou ou simplesmente porque gosto de você, consegui não tremer o microfone e até fiz algumas pessoas rirem de alguma piada. Foi bom. Gostei da vida de novo. E de mim. E nossa. Só Deus, aquele que você não acredita que existe, sabe o quanto eu quis te contar tudo isso.

Você não imagina como dói e como é solitário ser gente. Você nem sonha. Gente não pode ligar pro moço que conhece há dias e perguntar que raio ele ta fazendo que não liga, não pergunta, não continua apertando o play. Gente não pode fazer isso. Mas então que merda eu sou se gente não pode fazer isso? Sou menos ou mais que gente? Eu só queria que você soubesse que hoje ouvi a tal da música da Nina Simone que diz que o baby Just cares for me e fiquei rindo que nem besta. Uma senhora achou graça. Um homem bocejou. Uma criança cabeçuda além da conta se escondeu. O mundo sabe do que é essa minha cara, mas nem por isso está preocupado em me dar os pêsames ou os parabéns. Gostar de alguém, de novo, deveria ser algo como um enterro ou um nascimento. Mas gente acha só que é mais uma perda de tempo. E eu, que sei lá que merda sou, queria muito que não fosse.

Queria te contar que descobri porque te tratei mal da última vez. É que o raio da blusa cinza furada te deixa tão bonito e eu tenho mania de chorar quando acho alguma coisa muito bonita. E pra não chorar eu trato mal. A vida me emociona o tempo todo mas se eu ficasse chorando, quem ia pagar minhas contas e quem ia me querer cheia de olheiras? Então eu corro. Me dá de novo a vontade de ir embora. Eu to sempre indo embora mas aí vai um super clichê...: é de tanto que eu só queria ficar. E queria que você não achasse que sou sempre louca, ainda que eu seja.

Queria te dizer que foi mesmo ridículo quando você disse que gostava da sua aula de francês porque era mais divertida do que qualquer outra coisa e eu comparei isso com minha aula de personal de musculação. Agora me diz como eu posso falar tanta besteira só por causa de uma blusa cinza? Isso não é engraçado? Seria engraçado, se ser gente não fosse tão trágico e dizer essas coisas tão absurdo. Ser gente é um saco, um porre, uma coisa entravada no peito. Mas o que eu queria mesmo te dizer é que, só porque talvez você queira saber, nem gente mais eu ando conseguindo ser.

quinta-feira, setembro 23, 2010

::: Buraco :::
Tati Bernardi

Não tem mais bagunça na sala e nem sua meia soltando pelinhos pretos que parecem terra. Hoje vou conseguir me esparramar bastante na cama e dormir, dormir, dormir. Vou poder ver coisas leves na televisão e não passar mais mal com seus jornais cheios de desgraça. Não tem mais você me fazendo comer o doce com licorzinho. Sobrou um buraco triste entre o sofá e a planta. Não tem mais seu secador de cabelo que me fazia sorrir como só as pessoas que sentem muita paz conseguem. E você pra contar mais umas das 500 histórias que me fizeram, pela primeira vez, não querer tanto ocupar a vergonha de gostar com minha voz. Não tem sua euforia, a cordinha da alegria na qual você se agarra porque tem medo do que passa abaixo dos seus pés. Não tem mais seus olhos arregalados além do susto, me pedindo que a gente se divirta, que a gente consiga porque, afinal, a vida não anda das mais fáceis pra você e você, sempre como um touro, tenta e consegue tudo. Olhos tão arregalados pra devorar, como um predador, pra se dar, pra correr atrás do que mata tanto desejo, pra conquistar o mundo com uma força que me faz ficar horas te olhando quase sem ar. Mas um pouco cego pra momentos cruciais de delicadeza e interpretação. Os vencedores são mesmo um pouco egoístas e apesar de você ter me visto tanto e feito tanto e sido mais do que tanta gente que tentou bastante, é claro que a luz principal você deve guardar para o seu caminho que eu tenho certeza que será maravilhoso. Olhar com amor requer um tempo que pessoas de passagem não podem e não devem ter e eu, em vão, tentei ser aquele maluco da plateia que agarrou o corredor rumo ao pódio solitário.

Você está certo em exibir ao mundo tantos dentes e tão brancos. Eu é que estou errada quando paro um pouquinho para olhar com tristeza esses sustos do amor. Não tem mais você tirando sarro quando eu não aguentava a dor no peito e te dizia no escuro que era mais ou menos amor mesmo. Porque era. Porque é. Se você soubesse o estado que estou agora, zumbi, pegando detalhes seus por aqui, e doendo tanto que nem sei mais por onde começar. Eu não aguento mais começar. Queria tanto continuar. Não sei, não aguento, ainda não posso, mas queria continuar.

Alguma coisa deu errado em mim, eu não sei te explicar e eu não sei como arrumar e nem sei se tem ajuda pra isso. Mas meu corpo inteiro se revolta quando gosto de alguém. Me armo inteira pra correr pra bem longe e pra lutar com unhas gigantes quem tentar impedir. Me mata constatar como é ridículo ficar com saudade só de você ir tomar banho. Ter que sentir ciúme ou mágoa ou solidão e sorrir para não ser louca. Eu sinto de um tamanho que eu não tenho e então começo a adoecer, como sempre. Eu não sou louca, eu só não tenho pele pra proteger e quando você toca em mim eu sinto seus dedos e olhos e salivas deslizando por todos os meus órgãos. E você não precisa entender o medo que isso dá, mas talvez um dia possa ter carinho.

Ao final sobro eu aqui, nem doar sangue eu posso porque não tenho tamanho, com medo das horas, dos sons, dos meus ossos. Se você pudesse ver agora, tão pequena, tão desesperada, tão apaixonada, você me diria tantas coisas horríveis de novo? Se você visse como flutuo pela casa sem conseguir pisar no chão porque dói demais você não estar aqui, você diria novamente que eu peso demais?

Me perdoe pelos meus mil anos à frente dos nossos segundos e pela saudade melancólica que eu senti o tempo todo mesmo sendo nossos primeiros momentos. Pelo retesamento na hora de entregar. Pela maneira como eu grito e culpo quem tiver perto por uma angustia que sempre foi e será só minha e que eu sempre suporto mas quando sinto amor fico achando que posso distribuí-la um pouco, mesmo sabendo que é fatal. Me desculpe por eu ter querido tanto ficar bonita e perfeita e só ter conseguido olheiras e ossos. Me perdoe pelas vezes que de tanto querer leveza acabei pesando a mão. De tanto querer sentir, pensei sobre como estava sentindo, e perdi o sentimento. Ou senti sem pensar e isso pra mim é como meus medos das drogas e então precisei roubar a chave do carro do seu bolso pra me proteger de não olhar mais uma vez você e nunca mais voltar pra casa. Minha maior dor é não saber fazer a única coisa que me interessa no mundo que é amar alguém. Me perdoa por eu querer de uma forma tão intensa tocar em você que te maltrato. Minha mão acostumada com um mundo de chatices e coisas feias fica tão gigante quando pode tocar algo lindo e puro como você, que sufoca, esmaga e estraçalha. Me perdoe pela loucura que é algo tão pequeno precisando de amor e ao mesmo tempo algo tão grande que expulsa o amor o tempo todo. Eu sou uma sanfona de esperança. Eu tenho estria na alma.

Enfim. Cansei de pedir desculpa por quem eu sou. Cansei de ouvir de todo mundo como é que se trabalha, se ama, se permanece, se constrói. Eu tentei com todas as forças amar você e agora sofro com todas as forças pelo buraco que ficou entre o sofá e a planta e o meu coração. Você vai embora e eu vou voltar para as minhas manhãs com o iogurte que eu odeio mas que é a única coisa que passa pela garganta quando o dia tem que começar. Vou voltar para aqueles e-mails chatos de pessoas que eu odeio mas que pagam esse apartamento sem você. E ficar me perguntando de novo para quem mesmo eu tenho que ser porque só tem graça ser para alguém. E que se foda o amor próprio.

Você me disse e me olhou de formas terríveis mas o que sobrou colado em cada parte do dia e de mim é a maneira como você sorri levantando que nem criança o lábio superior direito e como eu gosto de você por isso e por tudo e mesmo quando é ruim e sempre quando é incrível e ainda e muito e por um bom tempo.

segunda-feira, setembro 20, 2010

::: Sobre o que estou esperando :::
Tati Bernardi

Imagine um cookie de Diabo Verde. É horrível de mastigar, quase impossível de digerir, às vezes você vomita pra não morrer e o pacotinho com quatro custa uma fortuna. Isso se chama análise lacaniana.
Numa reunião de psicanalistas, psicólogos e psiquiatras, fica fácil identificar cada um deles. Os psiquiatras dizem não beber mas, o tempo todo, pedem uma pequena dose de qualquer coisa antes de, com olhos dilatados demais para alguém que não quer parecer bobo, começarem algum discurso científico (e parecem sentir certa vergonha arrogante disfarçada de diploma de medicina), os psicólogos são ternos, encostam nas pessoas e se vestem mal (se forem cognitivos, são os que sorriem o tempo todo e sobram sozinhos na mesa), os psicanalistas freudianos prestam atenção a tudo com um misto de sarcasmo com tristeza mas sabem, no fundo de suas almas, que a tristeza é uma desculpa falsa humilde que deram para poderem continuar sendo sarcásticos. Os lacanianos não foram. Ou, se foram, estão rindo porque os cognitivos sobraram justo na mesa onde eles passaram melecas de nariz.
Tô nessa de Lacan há quase um ano e o único motivo que ainda me leva a degustar desse docinho desentupidor de merda é justamente sentir, por uma das primeiras vezes na vida, a minha merda desentupindo. Ele corrói sem dó mas resolve, tal qual o líquido dos infernos que tenho na minha despensa.
Pra quem não conhece o método, é a psicanálise em seu estado mais cruel (ainda que aqui a palavra cruel esteja mais no sentido de cru do que de crueldade- e não me perguntem o que eu quero dizer com isso porque apenas sinto que é assim e já percebi que quando digo essa frase “só sei que sinto” minha analista se chacoalha inteira no sofá de couro causando um imenso barulho que aprendi a chamar de um lugar no coração da Hitler dos subterfúgios da alegria cerebral). Tem o lance do divã, tem o lance do terapeuta sentar atrás de você (nos meus acessos de precisar de amor eu quase quebro o pescoço em busca de um olhar de aprovação “olha, o que ela está falando é muito bom!"), tem o lance do “não tem panos quentes não, filha de Deus, até porque ele não existe”. E tem também os silêncios terríveis...para os outros, porque eu nunca fiquei em silêncio em toda a minha existência.
Minha meta na vida, desde que desmamei e/ou minha mãe se distraiu dois segundos em me adular sobre todas as coisas, é ser incondicionalmente amada. Para isso, adquiri língua afiada, olhares jocosos e pés prontos para chutar e/ou sair correndo. Resumindo: criei e alimentei tudo em mim para justamente nunca mais ser amada ou ser amada apenas incondicionalmente. O que eu sei que não existe mas continuo sofrendo por não existir. Isso já está identificado desde meus seis anos, quando análise não era pra mim e sim para os filhos de muito ricos que estouravam restos de biribinhas em gatos de marca. Mas eu já sabia. A respeito de mim, eu sempre soube de tudo. Desde sempre. Mas saber não é exatamente desentupir a merda, daí que toda quinta bato cartão (ou ela bate minha carteira, nunca sei) no consultório perfumado e de paredes com isolamento acústico de minha analista. Aliás, isolamento que não funciona: eu sei, por exemplo, que o cara antes de mim se sente culpado porque o filho tira notas ruins e o cara depois de mim sabe, pela cara de pavor com a qual me olha na saída, que eu já aumentei pra dez o número de homens que sonham que estão sem pau quando saem comigo.
A coisa está indo super bem (o que significa que está terrível, insuportável e péssima) até que, nessa última quinta, melhorou ainda mais (o que significa que piorou muito). Quando eu já estava praticamente do lado de fora do seu consultório, chamando o elevador, já me recuperando de meu estado de lixo orgânico, de chorume existencial, ela abriu a porta mais uma vez, olhou pra mim daquele jeito que você só perdoa que uma pessoa te olhe se ela tiver, nitidamente, 20 anos a mais de estudo que você, e me disse “você está esperando o quê?”.
Eu quis responder que era o elevador, mas dada a sua frieza e seriedade, era óbvio que ela se referia à sessão que tinha acabado de acabar. Eu quis responder qualquer coisa, mas ela mandou a bomba e correu sem nem dar tempo do meu desvio de septo voltar pro seu lugar errado. Agora, como dizem por aí, era comigo “mermo”.
Passei a quinta inteira catatônica, tentando adivinhar o que eu deveria fazer para que não esperasse mais o que eu estava esperando. Eu deveria resolver alguma coisa, de certo, mas o quê? Sim, eu deveria parar de esperar, mas para parar de esperar, antes, eu deveria saber o que cazzo eu estava esperando. Que que eu tava esperando?
Passei e repassei a sessão um milhão de vezes na minha mente. Eu tinha falado de tararã, eu tinha falado de tarará, eu tinha falado também que tarará tinha o tararã maior que o do tarararão mas que o tarararão era muito mais tatataratatá que o tararinho. Mas nada disso me deu a pista que eu precisava para saber o que eu esperava até porque, disso tudo o que eu falei, eu não esperava absolutamente nada. Como sempre.
Você está esperando o quê? A voz dela me perseguiu pela sexta também, pela madrugada, pelo sábado. Ah, tantas coisas. Tô esperando ficar rica pra comprar uma casa maior. Tô esperando o último capítulo da novela pra ligar pra Gabi. Tô esperando meu chefe voltar pra pedir um aumento. Tô esperando a grana do freela entrar pra pagar o cartão de crédito. Estou esperando esquentar o tempo pra ir na depilação. Estou esperando os quarenta pra declarar estado de calamidade pública pra minha bunda. Tô esperando a minha vizinha reclamar do Radiohead de novo pra poder reclamar que ela toca tuba as quatro da manhã. Tô esperando a próxima temporada do House. Tô esperando a próxima quinta pra socar você, querida analista.
Quando a mente naufraga pesada demais, vou pro teatrinho infantil que mora lá pelas bandas do meu coração. Encenar minhas sensações pra ver se descubro algo que está difícil de se explicar sem figurinhas. E meu teatrinho infantil me botou em cima de um cavalo branco, com uma varinha de condão. Podia ser uma espada, mas acredito que uma “vara” que transforma o mundo é ainda mais pau que o pau que simplesmente luta, fura e mata, então lá tava eu de varinha mágica, toda me achando a princesinha ainda que a princesinha espere e não aja e eu, como boa pessoa que não deveria esperar por mais nada segundo a minha analista, estivesse agindo. Tá, agora faço o quê? Vou pra onde vestida de besta desse jeito? Eu tenho medo de cavalo, vara com estrela na ponta não me serve de nada. De que me serve meu potencial de macho se ele só me enfraquece? De que me serve a vontade de ir se o lugar não existe? De que me serve, afinal, esse amor?
Amor, é de amor que você fala? É. Tudo em mim respondeu, fazendo o som do recuo já sem forças de uma onda que explodiu na minha cara. Ééééééééééééééééééééé. O uníssono da concordância, como é bonito o equilíbrio único de uma constatação puramente verdadeira. O sopro do que cala fundo inundando, trazendo a resposta para as partes mais esquecidas e longínquas do que somos. Ééééééééééééééééééééééééééé.
Tô esperando o dia que isso vai passar. Isso aqui, que falo descarada e cifradamente, mas sempre. Isso que espalho em cada linha, o tempo todo, o muito peneirado ao longo desses dias todos, soando pouco mas sem parar, nos intervalos dos reais intervalos. Tô esperando acabar, passar, morrer, sangrar até o fim. Esperando o tempo que acalma chamas com seus ventos de mil pés distantes. Esperando alguém que ocupe, distraia, desacorrente, solte, substitua, torne nada demais. Esperando não sentir mais ódio e nem tesão e nem ciúme e nem saudade. Esperando porque é o que resta mesmo, não é falta de coragem, não é de se fazer, é de se sentir e só. Nem sempre a força de um amor é pra sair às ruas, pra viver histórias. No meu caso, sozinha mesmo, preciso ninar esse enjôo de um filho sem pai, esperar que ele nasça morto e enterrá-lo já sem dor. A gravidez do coração dura mais do que deveria e só expulsa seus filhos quando esses já nem existem mais.
Tá, analista dos infernos, eu entendi. Mas você erra quando acha que alguém resolve um amor. O amor é que, se tivermos coragem pra deixar, resolve aos poucos a gente.

domingo, setembro 19, 2010

::: Trechos do livro A Marca de Uma Lágrima :::
Pedro Bandeira

Ah, tormento que eu não posso confessar...
O que eu escrevo é a verdade, eu não minto, eu declaro tudo aquilo que eu sinto,
e é a outra que teus lábios vão beijar...

Sei que quanto mais verdade tem no escrito,
mais distante eu te ponho dos meus braços,
pois desenho o paralelo de dois traços
que na certa vão perder-se no infinito.


Estes versos feitos pra te emocionar
justificam todo o amor que tens por ela
e as carícias que esses dois amantes trocam.

E eu te excito, sem que venhas a notar
que esses lábios que tu beijas são os dela,
mas são minhas as palavras que te tocam...

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E o meu amado o que diria
se eu partisse?
O que diria se estes versos
não ouvisse?
O que teria em suas mãos
senão um corpo dessangrado
cheio de carne, de suspiros,
de delírio apaixonado?
Faltaria, porém, o recheio das idéias,
a loucura e a razão,
que transforma um encontro sem graça
em tremenda paixão!
Mas não tema o meu querido
que esse amor desapareça,
pois ele é amado ao mesmo tempo
por um corpo e uma cabeça.
O corpo ele pode beijar, cheirar,
fazer do corpo mulher.
Mas a cabeça o possui, manipula,
e faz dele o que quer!
Haja o que houver, do meu amor
esse garoto foi o rei.
Digam a ele que com corpo e cabeça
eu sempre o amarei.
A marca desta lágrima testemunha
que eu o amei perdidamente.
Em suas mãos depositei a minha vida
e me entreguei completamente.
Assinei com minhas lágrimas
cada verso que lhe dei,
como se fossem confetes
de um carnaval que não brinquei.
Mas a cabeça apaixonada delirou
foi farsante, vigarista, mascarada,
foi amante, entregando-lhe outra amada,
foi covarde que amando nunca amou!

sábado, setembro 18, 2010

::: Coletânea de trechos melancólicos para um sábado chuvoso :::
Caio Fernando Abreu

"Seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções."

"Sim, tenho vontade de me jogar pela janela, mas nunca foi possível abri-la. Não, não sei o que gostaria que você me dissesse. Dorme, quem sabe, ou está tudo bem, ou mesmo esquece, esquece."

"Não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais auto destrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia."

"Preciso de um colo que ninguém dá. Mas tudo bem."

"Ah, então foi pra ele que eu dei meu coração e tanto sofri? Amor é falta de QI, tenho cada vez mais certeza."

"Uma pressa, uma urgência. E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça."

"Para que não me firam, minto (...) E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também."

"No meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio. E fantasio, fantasio. Até o último momento esperei que você me chamasse pelo telefone. Que você fosse ao aeroporto. Casablanca, última cena."

"Não sei se em algum momento cheguei a ver você completamente como Outra Pessoa, ou, o tempo todo, como Uma Possibilidade de Resolver Minha Carência. Estou tentando ser honesto e limpo. Uma Possibilidade que eu precisava devorar ou destruir."

"Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis."

"Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros."

"Fiquei tão só, aos poucos. Fui afastando essas gentes assim menores, e não ficaram muitas outras. Às vezes, nos fins de semana principalmente, tiro o fone do gancho e escuto, para ver se não foi cortado. Não foi."

"Penso, com mágoa, que o relacionamento da gente sempre foi um tanto unilateral, sei lá, não quero ser injusto nem nada - apenas me ferem muito esses teus silêncios."

"Meu coração tá ferido de amar errado."

"Tô exausto de construir e demolir fantasias. Não quero me encantar com ninguém."

"Chegue bem perto de mim. Me olhe, me toque, me diga qualquer coisa. Ou não diga nada, mas chegue mais perto. Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada. Daqui a pouco você vai crescer e achar tudo isso ridículo. Antes que tudo se perca, enquanto ainda posso dizer sim, por favor chegue mais perto."

"De todos aqueles dias seguintes, só guardei três gostos na boca - de vodca, de lágrima e de café."

"E acontece que eu ainda sou babaca, pateta e ridícula o suficiente para estar procurando O Verdadeiro Amor"

"Piscar é uma espécie de vírgula que os olhos fazem quando querem mudar de assunto."

" ... quando a gente precisa que alguém fique a gente constrói qualquer coisa, até um castelo".

"Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe."

"Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo. "

"Eu preciso muito muito de você, eu quero muito muito você aqui de vez em quando, nem que seja muito de vez em quando, você nem precisa trazer maçãs nem perguntar se estou melhor, você não precisa trazer nada, só você mesmo, você nem precisa dizer alguma coisa no telefone, basta ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio, juro como não peço mais que o seu silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do muro. Mas eu preciso muito muito de você."

‘’ A dor é a única emoção que não usa máscara.’’

sexta-feira, setembro 17, 2010

::: Apenas Mais Uma de Amor :::
Lulu Santos

Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido

Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer

Eu acho tão bonito isso
De ser abstrato baby
A beleza é mesmo tão fugaz

É uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer

Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer

Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber

sábado, agosto 28, 2010

::: Só numa multidão de amores :::
Verônica Heiss

Eles não estavam trocando juras de amor, não andavam de mãos dadas, nem se chamavam por nomes infantis. Não tinha pieguice romântica ali. Mas foi a cena mais doce que eu vi: dois olhares se encontrando. Não só se encontrando: se confortando, se sabendo, se completando. Eu notei que eles eram algo além de amigos, que se desejavam e se protegiam, e foi só pela cumplicidade dos olhos, que deixavam de ser dois e se enlaçavam quatro.

Eu quis então ter um olhar pra mim. Não alguém pra chamar de meu, como diz o clichê, como grita a conveniência, mas um olhar que fosse meu por puro encaixe. Foi um pouco de inveja, talvez. Eu soube naquelas duas pessoas que elas não se sentiam sozinhas ou perdidas. Que mesmo depois de um dia cheio e chato, tinham uma certeza de carinho. E eu quis. Quis algo além da rotina do trabalho e gente fabricada com seus narizes perfeitos e cabelos penteados. Quis algo certo como o frio na barriga e a respiração travada, o coração esquecendo de bater. Quis algo errado que me fizesse bem só por escapar do caminho óbvio de toda noite. Uma espera no fim do dia, sabe? Essa espera. Não a espera de uma vida toda sem saber o que buscar pra ser feliz. Só sair do dia igual pra ter uma noite diferente. E tornar esse diferente comum só porque é bom estar perto.

Todo o amor que eu sufoquei por excesso de razão agora grita, escapa, transborda. Estou só numa multidão de amores, assim como Dylan Thomas, assim como Maysa, assim como milhões de pessoas; assim como a multidão de amores está só, em si. Demonstro minha fragilidade, meu desamparo. Eu não procuro alguém pra pentencer e ter posse, só quero uma fonte segura de amor que não dependa das obrigações, das falas decoradas, dos scripts prontos. Eu sei que eu abri mão de várias oportunidades. Sei que fiz pouco caso do amor que me entregaram de maneira pura e gratuita, só porque eu achava que podia encontrar coisa melhor. Se as pessoas estão sempre indo e vindo, eu só queria alguém minimamente eterno em sua duração, que me fizesse parar de achar normal essa história de perder as pessoas pela vida.

Vou embora querendo alguém que me diga pra ficar. Estou sempre de partida, malas feitas, portas trancadas, chave em punho. No fundo eu quero dizer "Me impede de ir. Fica parado na minha frente e fala que eu tenho lugar por aqui, que não preciso abandonar tudo cada vez que a solidão me derruba. Me ajuda a levar a vida menos a sério, porque é só vida, afinal." E acabo calada, porque não faz sentido dizer tudo isso sem ter pra quem.

Eu não quero viver como se sobrevivesse a cada dia que passo sozinha. Não quero andar como se procurasse meu complemento em cada olhar vago. Eu acho que mereço mais que isso por tudo o que eu sei que posso fazer por alguém. E fico só esperando, na surpresa do dia que eu desencanar de esperar, um par de olhos que me faça ficar sem nenhuma palavra, nada além de dois olhos se enlaçando quatro. Nessa multidão de amores, sozinho é aquele que não espera.

domingo, julho 11, 2010

::: Carta para Ana Paula :::
Verônica H.

Ei, não tenta entender as voltas que eu dou sozinha. Deixa só um mistério estranho de filme trash. Ninguém quer descobrir o que há por trás da menina diferente, mas ela ainda é a menina diferente que deve ser descoberta. Passo horas falando pra ficar muda de repente, passo toda a segurança do mundo pra me derrubar em medos bobos. É que tudo fica mais legal em constante mudança. E eu nem sei mais ser a mesma sempre. Se você desligar, sua vida vai seguir. A minha vai ficar contida nesse aparelho eletrônico. Eu já sou contida de tantas maneiras... Na verdade eu só queria te dizer que por mais que o tempo passe, não consigo preencher meus buracos. Eu olho em volta e não procuro nada. Só porque eu sei que não há nada. Só porque eu sei que o nada que eu quero tá longe de mim. É tudo um enorme, frio e presente nada. Um vazio do tamanho da minha quase existência. Eu quase existo, sabia? Afinal, quem existe por inteiro? Eu não. Eu sou metade amada (porque ninguém me assume por inteiro); metade interessante (porque assusto quem eu quero aproximar e frustro os que ignoram minha muralha); metade culpada (porque ninguém tem obrigação de me amar de verdade quando eu crio bloqueios tristes e vazios). Se você quiser desligar, tudo bem. Eu só tava fazendo drama. Claro que eu vou sobreviver, né? Nunca precisei disso pra me manter inteira. Mas me diz, e você, tá bem? Ainda dá tempo de fazer alguém feliz, saltar de pára-quedas, escrever um livro? Depois que te conheci Ana, eu ví que faltava mais esforço. Porque você tem faces desconhecidas... E nem sei se isso é bom. Tenho saudade até das pequenas coisinhas. De te mandar depoimentos do nada e passar a noite conversando no MSN (…). De falar sobre nossos medos - que eram tão diferentes e tão parecidos - com conselhos e compreensões, contando histórias sobre como eu era (sou) idiota (e eu sem poder te dar o que você merece. Eu quase sempre te interrompia, porque você gostava da minha imaginação fértil querendo ser bombeira). De não ter horário de ir embora no dia seguinte, por conta do seu escolar (que demora muito, rs). Saudades de ficar juntas no recreio, que foram raras as vezes que a gente ficava. Das fotos que a gente nunca tirava(…) Faz falta demais. Não só porque o tempo tá passando e porque nos ignoramos, mas porque eu estraguei tudo. Aquelas duas meninas já não existem. Eu posso estar errada, e quero estar. Mas também não quero mais me roer por isso, já tem sido uma ocupação fútil da minha cabeça. Se as pessoas estão sempre indo e vindo, eu só queria alguém minimamente eterno em sua duração, que me fizesse parar de achar normal essa história de perder as pessoas pela vida.Mas não ignore o que eu sou por não ter forças em me decifrar, não fuja antes de saber o que eu posso fazer pra ter dar uma vida. Seu medo é de ser feliz? Então dividimos esse pavor doentio da alegria, podemos partilhar pânico de sorrir até que a depressão não faça mais sentido em dupla. Algumas situações amarraram meus pés no chão, fazendo com que eu me agarrasse firmemente à realidade. Amizades platônicas, Ana, são para crianças. Foi isso que eu repeti silenciosamente, até me convencer. Pode assumir a bagunça que eu sou na sua vida, sem tentar me arrumar. Tenho vontade de encher parágrafos e mais parágrafos com pontos de interrogação. É tudo o que eu penso em escrever e no fundo sei todas as respostas. Não desiste de mim. Por trás de tanta indecisão tem alguém que precisa de companhia mesmo fingindo que não. Tem alguém que odeia todo mundo num segundo e chora de saudades de todos no segundo seguinte. E de você principalmente. Eu fico vulnerável demais enquanto falamos e acho que você sabe disso. Eu falo demais. Mais do que a verdade é capaz de acompanhar. Não precisa se preocupar. É dentro de mim, é o modo que eu aprendi a lidar com a confusão que é a minha cabeça, meu cérebro funciona mais evidente que meu coração. Eu racionalizo tudo. A razão me mata, mas me persegue. E eu não incomodo ninguém sendo assim. Desculpa, eu sei que não faz sentido te escrever agora e já faz tempo desde que esse sentido sumiu. Por minha culpa. Mas é que hoje tem tanta gente aqui e ninguém me vê... Você me viu num momento desses e é do seu olhar que eu sinto falta. Daqui a pouco irei encontrar amigos, e queria você nesse meio... Mesmo que você não esteja lá, meu pensamento estará com você, mesmo que não me lembre de você lá, assim que eu chego em casa, e deito minha cabeça, eu começo a orar pela sua vida e peço a Deus não pra gente se entender novamente, mas sim pra Ele abençoar teus passos onde quer que você vá. Porque é isso que faz um amigo. Sempre estarei aqui pra você, porque te amo.
'É pelo medo de cair de novo que meus joelhos tremem. É pelo medo de me entregar que meus olhos fogem. Grite o mais alto que puder, mas não espere resposta. Essa é a regra do jogo dos realistas.'

quinta-feira, julho 08, 2010

::: Muito Prazer :::
Tati Bernardi

Eu tenho medos bobos e coragens absurdas.
Eu vivo cercada de pessoas por fora da minha bolha egocêntrica, infantil e sensível.
Eu preciso de sal e açúcar para não virar os olhos de pressão baixa e hipoglicemia.
Escrevo por três motivos simples: preciso aparecer e não sou bonita o suficiente, preciso matar o tempo e preciso não morrer.
Sou fútil, entro em pânico pela moda, mas meto um chinelinho pra parecer desencanada.
Sou romântica, entro em pânico por não ser amada.
Eu vivo à espera daquele momento, mas não sei momento é esse.
Às vezes sinto cheiros e morro de saudades de coisas que já não me lembro mais.
Eu me orgulho de todas as minhas lembranças ingênuas, mas tenho consciência de que foi a minha fragilidade cansada que me transformou numa pessoa irônica.
Eu tenho uma risada escandalosa que me envergonha e uma mania ridícula de imitar a Madonna nas pistas de dança.
Passo metade do dia odiando minha vida e querendo ser sugada pela minha própria insignificância.
A outra metade passo rindo do quanto sou dramática e exagerada.

Eu sei de cor tudo o que tenho que fazer para dar certo, mas tenho medo da responsabilidade de ser notada.
Adoro o toque do telefone que quebra o barulho do abandono, a força leve da caneta no papel que pode transformar tantas coisas e o som do carro chegando na chuva para me salvar.
Às vezes, eu gosto apenas da folha em branco, do silêncio, da noite e da janela fechada, de preferência todos juntos.
Adoro o som de crianças num parquinho.
Acho tudo o que se refere ao amor extremamente brega.
Acho tudo o que não se refere ao amor extremamente infeliz.
Tenho crises de pânico mas nunca tomei nenhum remédio, acho normal que às vezes o ar se despeça do meu mundinho fechado e me faça vagar pela falta de pressão do universo.
Minha mão fica tão gelada e meu coração tão quente que eu pareço um petit-gateau.
Tenho medo de vomitar e não parar nunca mais de vomitar.
De bater a cabeça desmaiada na pia e morrer solitariamente.
Eu cansei de papo furado à luz de velas, eu cansei da ansiedade e da ilusão de princesa.
Eu prefiro um DVD e um pijamão e todas as minhas guloseimas no armário da cozinha.
Mentira. Tudo mentira. Eu corro atrás o tempo todo.
Não vou falar de nada que não seja meu umbigo.
Sou essa mala monotemática mesmo, chata, obsessiva, mas que ama muito mais do que odeia.

quinta-feira, julho 01, 2010

::: Perfeito isso!!! :::
Fernanda Young

Pergunto-me a mesma coisa, de tempos em tempos: o que há em você, lixo, que me atrai e me engana tanto? Seguramente, não é o seu perfume. Nem a sua aparência – além de baixinho, não conheço ninguém que não o ache feio e desarrumado.
::: Texto lindo (trecho) :::
Caio Fernando Abreu

Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar.

sexta-feira, junho 25, 2010

::: Porto Alegre, 10 de agosto de 1985 ::: (trechos)
Caio F. Abreu


Não era nada com você. Ou quase nada. Estou tão desintegrado. Atravessei o resto da noite encarando minha desintegração. Joguei sobre você tantos medos, tanta coisa travada, tanto medo de rejeição, tanta dor. Difícil explicar. Muitas coisas duras por dentro. Farpas. Uma pressa, uma urgência. E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça. Com requintes, com sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras. Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. Não queria fazer mal a você. Não queria que você chorasse. Não queria cobrar absolutamente nada. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem? Sem que se consiga controlar.


Fiz fantasias. No meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio. E fantasio, fantasio. Até o último momento esperei que você me chamasse pelo telefone. Que você fosse ao aeroporto. Casablanca, última cena. Todas as cartas de amor são ridículas. Esse lugar confuso de que fala Caetano. E eu estava só começando a entrar num estado de amor por você. Mas não me permiti, não te permiti, não nos permiti. Pedro Paulo me dizendo no ouvido "nunca vi essas luz nos seus olhos".


Quando pergunto você-compreende-tudo-isso não estou subestimando você. Ah, deus, perdoe. Não sinto agressividade nenhuma em relação a você. E gosto das tuas histórias. E gosto da tua pessoa. Dá um certo trabalho decodificar todas as emoções contraditórias, confusas, soma-las, diminui-las e tirar essa síntese numa palavra só, esta: gosto.


Fico tomado de paixão.Há tempos não ficava.


O que tem me mantido vivo hoje é a ilusão ou a esperança dessa coisa, "esse lugar confuso", o Amor um dia. E de repente te proíbem isso. Eu tenho me sentido muito mal vendo minha capacidade de amar sendo destroçada, proibida, impedida, aos 36 anos, tão pouco. Nem vivi nada ainda.


Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas... Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.


Somos muito parecidos, de jeitos inteiramente diferentes: somos espantosamente parecidos. E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim - para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura. Perdoe a minha precariedade e as minhas tentativas inábeis, desajeitadas, de segurar a maçã no escuro. Me queira bem.


Estou te querendo muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas.Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito lindo e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.


Com cuidado, com carinho grande, te abraço forte e te beijo,


Caio F.


p.s.: Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis. E amanhã tem sol.
::: Sorte :::
Milena Gouvêa

Eu sou sortuda.
Depois de tentar me descrever por diversas (e inúteis) vezes, pude chegar a esta simples conclusão
Sortuda.
Claro, milhões de mulheres, assim como eu, também são sensíveis. Também vivem com a cabeça na lua, esquecem as chaves de casa, são caseiras, friorentas, chegadas num drama e apreciam as espontaneidades. Difícil é serem sortudas.
Então porque eu gastaria linhas descrevendo características tão comuns quando tenho um verdadeiro pé de coelho nas mãos?


Pois a sorte conhece meu endereço e bate à minha porta. Está aqui, presente do bingo ao trevo de quatro folhas.
E eu sei, eu sei que você dirá que sorte não existe, que o que existe são conquistas. Então chame de acaso, coincidência, fé, o que for.
Independente do nome, aqui tem de sobra.


E antes que você pergunte onde está meu bilhete premiado na Mega Sena, onde foi parar o carro que ganhei no último sorteio ou quanto dinheiro andei achando na rua, é bom avisar:


Sorte pra mim é ver o carrinho de picolé chegando. É compartilhar gargalhada na segunda. Acordar com vontade de fazer bolo e ver que tenho os ingredientes. É ganhar beijo roubado. É ir à locadora e conseguir “O mágico de Oz” por dez reais. É ter um pai que trabalhou na Lacta, depois na Kibon. E uma mãe que parece ter trabalhado no céu.
De onde eu venho, sorte é conseguir me formar na profissão que eu queria, e já empregada. É ver que a margarida que você me deu e eu plantei no jardim, pegou. Que as fotos de ontem ficaram bonitas. E que, o moço do meu lado, é muito, muito mais do que eu pedi a Deus.
Sorte pra mim é sol no sábado. É pijama até às 3. É reunir os melhores amigos com chapeuzinho de aniversário. É saber que amanhã é sexta. E que os problemas já podem ser substituídos.
Sorte é saber que eu sou forte, capaz e saudável. E saber que eu não sou um monte de coisas. Mas que posso ser.
É ter pra quem ligar quando eu quero rir. E ter alguém pra chamar quando eu quero colo.
É ter certezas. De que vai dar tempo. De que vai dar saudade. E de que eu sou determinada a ponto de quebrar a cara (e de não desistir com isso). É, acima de tudo, saber perceber que EU tenho sorte.


Sorte é ter um passado doce e o açucareiro nas mãos.

sexta-feira, junho 04, 2010

::: Fuck You :::
Lily Allen

Look inside
Look inside your tiny mind
Now look a bit harder
Cause we're so uninspired,
Sso sick and tired
Of all the hatred you harbour.

So you say
It's not OK to be gay
Well I think you're just evil
You're just some racist
Who can't tie my laces
Your point of view is medieval

Fuck you (fuck you)
Fuck you very, very much
Cause we hate what you do
And we hate your whole crew
So please don't stay in touch

Fuck you (fuck you)
Fuck you very, very much
Cause your words don't translate
And it's getting quite late
So please don't stay in touch

Do you get
Do you get a little kick out of
Being small-minded?
You want to be like your father,
His approval you're after
Well that's not how you find it.

Do you,
Do you really enjoy
Living a life that's so hateful?
Cause there's a hole where your soul should be
You're losing control of it
And it's really distasteful

Fuck you (fuck you)
Fuck you very, very much
Cause we hate what you do
And we hate your whole crew
So please don't stay in touch

Fuck you (fuck you)
Fuck you very, very much
Cause your words don't translate
And it's getting quite late
So please don't stay in touch

Fuck you, fuck you, fuck you
Fuck you, fuck you, fuck you
Fuck you

You say you think we need to go to war
Well you're already in one
Cause it's people like you
That need to get slew
No one wants your opinion

Fuck you (fuck you)
Fuck you very, very much
Cause we hate what you do
And we hate your whole crew
So please don't stay in touch

Fuck you (fuck you)
Fuck you very, very much
Cause your words don't translate
And it's getting quite late
So please don't stay in touch

Fuck you

quinta-feira, junho 03, 2010

::: Everybody Hurts :::
R.E.M.

When your day is long
And the night the night is yours alone
When you're sure you've had enough of this life
Hang on
Don't let yourself go
'Cause everybody cries
And everybody hurts, sometimes

Sometimes everything is wrong
Now it's time to sing along
When your day is night alone (Hold on, hold on)
If you feel like letting go (Hold on)
If you think you've had too much of this life
To hang on

'Cause everybody hurts
Take comfort in your friends
Everybody hurts
Don't throw your hand, oh no
Don't throw your hand
If you feel like you're alone
No, no, no, you're not alone

If you're on your own in this life
The days and nights are long
When you think you've had too much of this life
To hang on

Well, everybody hurts
Sometimes, everybody cries
And everybody hurts, sometimes
But everybody hurts, sometimes
So hold on

Hold on
Everybody hurts
You're not alone

sábado, maio 29, 2010

::: Coisas Que Eu Sei :::
Danni Carlos

Eu quero ficar perto
De tudo que acho certo
Até o dia em que eu
Mudar de opinião
A minha experiência
Meu pacto com a ciência
Meu conhecimento
É minha distração...

Coisas que eu sei
Eu adivinho
Sem ninguém ter me contado
Coisas que eu sei
O meu rádio relógio
Mostra o tempo errado
Aperte o Play...

Eu gosto do meu quarto
Do meu desarrumado
Ninguém sabe mexer
Na minha confusão
É o meu ponto de vista
Não aceito turistas
Meu mundo tá fechado
Pra visitação...

Coisas que eu sei
O medo mora perto
Das idéias loucas
Coisas que eu sei
Se eu for eu vou assim
Não vou trocar de roupa
É minha lei...

Eu corto os meus dobrados
Acerto os meus pecados
Ninguém pergunta mais
Depois que eu já paguei
Eu vejo o filme em pausas
Eu imagino casas
Depois eu já nem lembro
Do que eu desenhei...

Coisas que eu sei
Não guardo mais agendas
No meu celular
Coisas que eu sei
Eu compro aparelhos
Que eu não sei usar
Eu já comprei...

As vezes dá preguiça
Na areia movediça
Quanto mais eu mexo
Mais afundo em mim
Eu moro num cenário
Do lado imaginário
Eu entro e saio sempre
Quando tô a fim...

Coisas que eu sei
As noites ficam claras
No raiar do dia
Coisas que eu sei
São coisas que antes
Eu somente não sabia...

Agora eu sei...

quarta-feira, maio 19, 2010

Música para celebrar meu aniversário... 
Quantos anos? Adivinha!


::: Vinte e Nove :::
Legião Urbana

Perdi vinte em vinte e nove amizades
Por conta de uma pedra em minhas mãos
Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes
Estou aprendendo a viver sem você
(Já que você não me quer mais)
Passei vinte e nove meses num navio
E vinte e nove dias na prisão
E aos vinte e nove, com o retorno de Saturno
Decidi começar a viver.
Quando você deixou de me amar
Aprendi a perdoar
E a pedir perdão.
(E vinte e nove anjos me saudaram
E tive vinte e nove amigos outra vez)

sexta-feira, maio 14, 2010

::: Ninguém é insubstituível :::
Celia Spangher

Na sala de reunião de uma multinacional o CEO nervoso fala com sua equipe de gestores. Agita as mãos mostra gráficos e olhando nos olhos de cada um ameaça: “ninguém é insubstituível” . A frase parece ecoar nas paredes da sala de reunião em meio ao silêncio. Os gestores se entreolham, alguns abaixam a cabeça. Ninguém ousa falar nada.

De repente um braço se levanta e o CEO se prepara para triturar o atrevido:

- Alguma pergunta?

- Tenho sim. E o Beethoven?

- Como? – o CEO encara o gestor confuso.

- O senhor disse que ninguém é insubstituível e quem substitui o Beethoven?

Silêncio.

Ouvi essa estória esses dias contada por um profissional que conheço e achei muito pertinente falar sobre isso. Afinal as empresas falam em descobrir talentos, reter talentos, mas, no fundo continuam achando que os profissionais são peças dentro da organização e que quando sai um é só encontrar outro para por no lugar.

Quem substitui Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Ghandi? Frank Sinatra? Dorival Caymmi? Garrincha? Michael Phelps? Santos Dumont? Monteiro Lobato?Faria Lima ? Elvis Presley? Os Beatles? Jorge Amado? Paul Newman? Tiger Woods? Albert Einstein? Picasso?

Todos esses talentos marcaram a História fazendo o que gostam e o que sabem fazer bem – ou seja – fizeram seu talento brilhar. E portanto são sim insubstituíveis.

Cada ser humano tem sua contribuição a dar e seu talento direcionado para alguma coisa. Está na hora dos líderes das organizações reverem seus conceitos e começarem a pensar em como desenvolver o talento da sua equipe focando no brilho de seus pontos fortes e não utilizando energia em reparar “seus gaps”.

Ninguém lembra e nem quer saber se Beethoven era surdo, se Picasso era instável, Caymmi preguiçoso, Kennedy egocêntrico, Elvis paranoico.

O que queremos é sentir o prazer produzido pelas sinfonias, obras de arte, discursos memoráveis e melodias inesquecíveis, resultado de seus talentos.

Cabe aos líderes de sua organização mudar o olhar sobre a equipe e voltar seus esforços em descobrir os pontos fortes de cada membro. Fazer brilhar o talento de cada um em prol do sucesso de seu projeto.

Se você ainda está focado em “melhorar as fraquezas” de sua equipe corre o risco de ser aquele tipo de líder que barraria Garrincha por ter as pernas tortas, Albert Einstein por ter notas baixas na escola, Beethoven por ser surdo e Gisele Bundchen por ter nariz grande.

E na sua gestão o mundo teria perdido todos esses talentos???

quinta-feira, maio 06, 2010

::: Never Ever :::
All Saints

A few questions that I need to know
How you could ever hurt me so
I need to know what I've done wrong
And how long it's been going on
Was it that I never paid enough attention?
Or did I not give enough affection?
Not only will your answers keep me safe
But I'll know never to make the same mistake again
You can tell me to my face
Or even on the phone
You can write it in a letter
Either way I have to know
Did I never treat you right?
Did I always start the fight?
Either way I'm going out of my mind
All the answers to my questions I have to find

My head's spinning
Boy, I'm in a daze
I feel isolated
Don't want to communicate
I take a shower
I will scour, I will roam
To find peace of mind
The happy mind I once owned
Yeah

Flexing vocabulary runs right through me
The alphabet runs right from A to Z
Conversations, hesitations in my mind
You got my conscience asking questions that I can't find
I'm not crazy
I'm sure I ain't done nothing wrong, no
I'm just waiting
'Cause I heard that this feeling won't last that long

Never ever have I ever felt so low
When you gonna take me out of this black hole?
Never ever have I ever felt so sad
The way I'm feeling, yeah, you got me feeling really bad
Never ever have I had to find
I've had to dig away to find my own piece of mind
I've never ever had my conscience to fight
The way I'm feeling, yeah, it just don't feel right

I'll keep searching
Deep within my soul
For all the answers
Don't want to hurt no more
I need peace, got to feel at ease
Need to be free from pain
Going insane
My heart aches
Yeah

You can tell me to my face
You can tell me on the phone
Ooh, you can write it in a letter, babe
'Cause I really need to know
You can write it in a letter, babe
You can write it in a letter, babe

quarta-feira, maio 05, 2010

::: Dia Comum :::
Detonautas
Composição: Rodrigo Netto / Tico Santa Cruz

Porque você se faz
O que não pode ser
Muito mais forte
Inofensivo

Tá complicado de dizer
Alguma coisa
Você não ouve
Não me responde

Já se perdeu
Ficou pra trás
Como um dia comum

Nada que eu faça te importa
Nada te importa mais
Nada mudou