quarta-feira, outubro 17, 2007

::: Imagem :::
Ana Paula Mangeon

Costumo confundir a impressão com a essência
A possibilidade com a certeza.
A teoria com a prática.
A notícia com o fato.

Confundo o que é com o que invento.
Até que me lembro
Que parecido não significa igual.
E que o semelhante nunca será aquilo a que se assemelha.

Aquilo no espelho, é só uma imagem.

domingo, outubro 07, 2007

::: Fugazes :::
Ana Paula Mangeon

Era um menino lindo,
e sabia conversar,
e se entregava ao beijar .

E era sábado
e já tinhamos bebido demais

E me deu todos seus telefones
e eu idem
E não vou ligar
e nem ele.
::: Vivo ou morto. Meu reino por um homem interessante. :::
Tati Bernardi

Não sei mais o que fazer das minhas noites durante a semana. Em relação aos finais de semana já desisti faz tempo: noites povoadas por pessoas com metade da minha idade e do meu bom senso. Nada contra adolescentes, muitos deles até são mais interessantes e vividos do que eu, mas to falando dos “fabricação em série”. Tô fora de dançar os hits das rádios e ter meu braço ou cabelo puxado por um garoto que fala tipo assim, gata, iradíssimo, tia. Tinha me decidido a banir a palavra “balada” da minha vida e só sair de casa para jantar, ir ao cinema ou talvez um ou outro barzinho cult desses que tem aberto aos montes em bequinhos charmosos. Mas a verdade é que por mais que eu ame minhas amigas, a boa música e um bom filme, meus hormônios começaram a sentir falta de uma boa barba pra se esfregar.

Já tentei paquerar em cafés e livrarias, não deu muito certo, as pessoas olham sempre pra mim com aquela cara de “tô no meu mundo, fique no seu”. Tentei aquelas festinhas que amigos fazem e que sempre te animam a pensar “se são meus amigos, logo, devem ter amigos interessantes”. Infelizmente essas festinhas são cheias de casais e um ou outro esquisito desesperado pra achar alguém só porque os amigos estão todos acompanhados. To fora de gente desesperada, ainda que eu seja quase uma.

Baladas playbas com garotas prontas para um casamento e rapazes que exibem a chave do Audi to mais do que fora, baladas playbas com garotas praianas hippye-chique que falam com voz entre o fresco e o nasalado (elas misturam o desejo de serem meigas com o desejo de serem manos com o desejo de serem patos) e rapazes garoto propaganda Adidas com cabelinho playmobil também to fora.

O que sobra então? Barzinhos de MPB? Nem pensar. Até gosto da música, mas rapazes que fogem do trânsito para bares abarrotados, bebem discutindo a melhor bunda da firma e depois choram “tristeza não tem fim, felicidade sim” no ombro do amigo, têm grandes chances de ser aquele tipo que se acha super descolado só porque tirou a gravata e que fala tudo metade em inglês ao estilo “quero te levar pra casa, how does it sounds?”

Foi então que descobri os muquifos eletrônicos alternativos, para dançar são uma maravilha, mas ainda que eu não seja preconceituosa com esse tipo, não estou a fim de beijar bissexuais sebosos, drogados e com brinco pelo corpo todo. To procurando o pai dos meus filhos, não uma transa bizarra. Minha mais recente descoberta foram as baladinhas também alternativas de rock. Gente mais velha, mais bacana, roupas bacanas, jeito de falar bacana, estilo bacana, papo bacana… gente tão bacana que se basta e não acha ninguém bacana. Na praia quem é interessante além de se isolar acorda cedo, aí fica aquela sensação (verdadeira) de que só os idiotas vão à praia e às baladinhas praianas. Orkut, MSN, chats… me pergunto onde foi parar a única coisa que realmente importa e é de verdade nessa vida: a tal da química. Mas então onde Meu Deus? Onde vou encontrar gente interessante? O tempo está passando, meus ex já estão quase todos casados, minhas amigas já estão quase todas pensando no nome do bebê,… e eu? Até quando vou continuar achando todo mundo idiota demais pra mim e me sentindo a mais idiota de todos? Foi então que eu descobri. Ele está exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dúvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredon lendo mais algumas páginas do seu mundo perfeito.

A verdade é que as pessoas de verdade estão em casa. Não é triste pensar que quanto mais interessante uma pessoa é, menor a chance de você vê-la andando por aí?

quarta-feira, outubro 03, 2007

::: Way out :::
Ana Paula Mangeon

O problema de se estar quase sempre muito sozinha não é que falte alguém. O desconforto procede desse excesso de mim, de ter tempo e espaço para mergulhar em quem eu sou e me descobrir. Assusto-me com minhas nuances. E quanto mais eu me sei mais impossível de lidar eu me considero. Conhecer-me tão bem é um peso, um peso que não chega a ser uma dor mas incomoda discretamente. Eu não tenho desculpas para nada. O que digo é o que quero dizer. O que sinto é integralmente o que sinto. E eu digo muitas coisas e sinto tudo muito intensamente. E não penso antes de dizer nem me preocupo antes (nem depois) de sentir.

Apaixonava-me então, de tempo em tempo, ou me mantinha apaixonada. Assim girava o foco para fora de mim e me desentendia um pouco. Apaixonar-me dava a oportunidade de me surpreender comigo. E de romance em romance – todos imaginários – fui descobrindo meus limites, minhas canduras, minhas amarguras. Os limites do quanto eu podia me entregar, do quanto não. Até que aconteceu.

De ter o “viver um grande amor” tão minuciosamente planejado, de saber-me ação e reação e pôr-me a esperá-lo, racionalizei também a paixão. E a paixão virou uma outra coisa, inominável, porque não há jeito de sentimento ser sentido quando permeado de razão.

E quando o telefone não toca, eu já não me preocupo. Faço um café com leite. Abro um livro. E quando a saudade aperta, um escrevo uma bobagem e dou um sorriso.

Eu já conheço minha alma bem demais. Demais.

Preciso de pronomes que não sejam eu.
Emergir, enfim, de minh’alma. Romper o casulo.
Preciso de Você. Do outro.
Cuidar de. Não me.
Quero Tu. Te.
Quiçá Nós.
Seja lá Nós, quem formos.

Preciso me desconhecer completamente.
::: Bom dia :::
Ana Paula Mangeon

Acordar como quem ressuscita
sonhos bons, vertigens como cócegas.
Acordar como quem volta de um lugar
onde tempo e espaço não importam
pois não há números,
nem é preciso fazer contas...
::: Exigência :::
Ana Paula Mangeon

Chame com qualquer nome,
rosa, coisa, amiga, esposa.
Eu não preciso de batismo.
Se sonegue, se divida
me coloque ora sim, ora não na sua vida.
Diga que estamos juntos
faça que a gente não existe.
Nomes, rótulos, planos? Para quê?
Basta não me deixar ficar triste.