domingo, dezembro 28, 2008

::: Sentir-se Amado :::
Martha Medeiros


O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.

Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.

Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?

Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho".

Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato."

Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro.

Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.

Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.

Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Depois de assistir ao especial do Roberto Carlos com a minha avó, tinha que colocar aqui a minha canção preferida dele, que eu já havia postado aqui, em janeiro de 2005.

::: Outra Vez :::
Roberto Carlos

Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços o que eu nunca esqueci
Você foi dos amores que eu tive
O mais complicado e o mais simples pra mim.
Você foi o melhor dos meus erros
A mais estranha história que alguém já escreveu
E é por essas e outras que a minha saudade
Faz lembrar de tudo outra vez.
Você foi a mentira sincera
Brincadeira mais séria que me aconteceu
Você foi o caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim outra vez.

Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes eu tenha vontade
Sem nada perder.
Você foi toda a felicidade
Você foi a maldade que só me fez bem
Você foi o melhor dos meus planos
E o pior dos enganos que eu pude fazer
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim outra vez.

quinta-feira, dezembro 25, 2008

::: No Way Out :::
Detonautas

Já é tarde
Vou embora daqui
Tire as mãos de mim
Que direito você tem pra me impedir?
Já dei chances e chances, você nem ligou
Nosso fim é certo. ACABOU

Eu nem sei porque é que fui embora
O que eu sei é que chegou a hora
Já notei que te dei muita chance
Você não merece chance

quarta-feira, dezembro 24, 2008

::: Na fila do supermercado :::
Tati Bernardi

Quando ele colou meus livros na boca eu entendi que era uma maneira de encostar em mim sem encostar em mim. Ele tava de ressaca de pinga e eu de tudo. Não era pra gente se beijar. Apesar de eu estar fazendo bico sem parar, uma mistura de vontade de chegar mais perto com vontade de me proteger.

Ele se desculpava pelo cheiro e pela cara feia. E eu não desculpava nada. Era tudo tão bom. O cheiro e a cara feia. Tudo tão bom e nada feio. Seu nariz ganhou o prêmio de melhor coisa de 2008. Eu disse e ele riu. E já que ele não trouxe a gaita, que pelo menos fizesse a dancinha pra mim. E ele quase fez mas foi mexer nos meus livros e eu tive a idéia de emprestar meu amado Martin Page só pra depois ter desculpa de pegar de volta. E ele topou. É um livro sobre como tudo é insuportável e a gente quer morrer mas de repente tudo fica incrível e a gente quer viver. E ele entendeu. E melhor uma das primeiras visitas pra minha casa nova não podia ter. Mas já? Já? E então ele tomou minha água de coco e foi ficando melhor. E eu fui ficando melhor. Ressaca passa. É isso, simples. Você pensa que vai morrer, mas passa.

As mulheres não me aguentam porque sou muito desligado. Ele disse. Os homens não me aguentam porque sou ligada demais. Coisas soltas ditas enquanto ele me contava que tinha o pôster do “Homem que amava as mulheres” igual ao meu e gostava de House. Você vai na minha casa um dia? Claro. Você vem na minha de novo? Claro. A gente vai se ver o ano que vem? Claro. Adoro coisas claras. Mas já?

E então ele pediu dedicatória e eu comecei a chupar a caneta. E ele continuava encostando meu livro na boca. Até que a gente percebeu e deu risada. Essa coisa é mesmo absurda. Mas já? Tô achando minha dor duvidosa, porque agora, por exemplo, não tenho dor nenhuma. E ele riu e disse que também não tinha dor nenhuma naquele momento. E quando ele riu, eu percebi. Eu percebi que eu estava na merda. Porque adoro esses caras que dão risada com a cara inteira mas continuam com os olhos um pouco tristes e parados. E adoro que a ressaca dele não permitia muita emoção e por isso ele fechava um pouco os olhos e ficava quietinho. É impressionante como eu não gosto de ninguém mas, de vez em quando, escapa um momento, um gesto, uma pessoa perdida e linda e única. E eu fico nessa felicidade de ser uma pessoa boa e capaz dessas coisas boas.

E então eu contei pra ele que não fumava e ele que já tinha tomado drogas pesadas com aquele cantor fodão que faz as mulheres ajoelharem. E dos amigos que morreram e tudo muito rock and roll e achei divertido se é que se pode achar isso. Eu nunca namorei escritoras. E eu que nunca namorei. Acho. E então falamos do melhor japonês do bairro e do melhor livro do Philip Roth e ele confundiu Quarto do Filho com filho do quarto e quase falou mal do John Fante e de repente tudo ficou tão bem, tão bem. Mas já?

Todo mundo é um pouco triste e um pouco louco e já estava muito tarde. E na televisão tava passando um filme brasileiro idiota. E ele imitou viado pra mim, porque achei o fim do mundo ele ser um comunista rock and roll que fala francês e gosta de coelhinhos. E tudo era legal, tudo, qualquer coisa nele é tão legal. Vai da camisa até o nariz. E do jeito dele falar até o tempo todo que ele fica quieto. É tudo tão legal. E a força que saia de dentro dele aquele dia e agora ele sem forças. E tudo forte e ao mesmo tempo eu quase com sono e calma. E de como ele fala de coisas terríveis quase sorrindo. E de como ele diz que me liga em meses e liga no dia seguinte. E de como ele chegou até aqui completamente bêbado e completamente bom moço. E de como ele disse, da maneira mais sensual do mundo, que queria, um dia, fazer sacanagens meigas comigo. E eu perguntei se eram bregas, os textos. E ele disse que eram no limite, porque ninguém diz verdades sem ser. E nada disso me descontrolou porque a voz dele é quase uma meditação. E ele disse que precisava me contar uma coisa que ia me deixar triste. E eu disse vai com tudo. E ele disse que não tinha nenhuma música falando “na fila do supermercado”. Eu tinha imaginado tudo. Era outra frase, era outra coisa, eu tinha imaginado tudo. É isso que eu faço, baby. Eu imagino tudo. A sua profissão é escrever para os outros imaginarem, a minha é imaginar para eu escrever. E ele me achou inteligente e eu adoro isso porque é um tipo de sexo que se faz que não enlouquece e nunca sacia. E ele ficou melhor e foi embora. E eu fiquei melhor e voltei. Não quero mais morrer, eu só quero meu livro de volta. Viver é bom demais.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

::: Questões Cronólogicas :::
Ana Paula Mangeon

Eu posso ignorar o dia nascendo.
Eu posso fechar as cortinas.
Eu posso desligar o despertador
para pedir mais cinco minutos.

Às vezes posso perder a hora.
Sim, eu posso.
O que eu não posso mais
é perder tempo.

sábado, dezembro 20, 2008

::: Câmara Escura :::
Ana Paula Mangeon

Do filme velado
Revela-se, tranqüila,
a constatação:

Serei sempre aquela
Que tu desejas
jamais querendo.

Serás sempre aquilo
que não quero mais,
mas continuo desejando ao extremo
::: Oito, um, onze :::
Tati Bernardi

Ligo pra ele, meu melhor amigo de falar besteiras. Ficamos horas rindo porque o meu marceneiro queria selar a rosca com o sifão na mão. Não tem a menor graça. Mas é bom rir. Desligo. Ligo pra ele, meu melhor amigo para eu me sentir especial. Ele vai passar na minha casa hoje, trazer um presentinho, essas coisas. É bom. Vem mais tarde, depois da novela. É bom. Ligo pra ele, meu melhor amigo pra fazer drama. Ele fala que não é bem assim, Tati. Claro que vai dar tudo certo. E sim, vamos sair num horário sem trânsito e sim você vai pagar todas as contas e sim, eles vão nascer. Um dia eles nascem. E mais tarde ele passa aqui, depois do amigo que vem depois da novela. E ligo pra ele, meu mais novo amigo. Ele chega com seu carro enorme e me ajuda a subir. Vamos sempre jantar em lugares chiques e bregas e divertidos. E me dá preguiça mas é melhor do que ficar em casa ou no telefone. E ele me elogia, diz que branquinha assim, eu sou tão diferente de tudo. E eu quero explicar que sou sim diferente de tudo, mas nada tem a ver com a epiderme. E ligo pra ele, o homem que sempre quer me ver mas nunca diz diretamente e acabamos não marcando. E moramos tão perto. E ele me explica que é complicado, se eu soubesse. E eu finjo não saber. E eu só viajo naquela voz, naqueles silêncios, em como ele nunca sabe o que me dizer e fica pensando e pensando. Em como eu, tão boba, deixo ele bobo. E gosto um pouco desse meu poder solitário. E eu nem lembro dele, mas lembro o que eu senti quando o vi pela primeira e única vez. Da força que saia de dentro dele. E agora isso, esses vários silêncios e lacunas. E gosto ainda mais dele. Mesmo sem saber quem ele é e mesmo sabendo que é só pra distrair os dias. E ligo pra ele, meu amigo querido, meu amigo desesperado de amor e ao mesmo tempo só querendo sentir alguma coisa que não seja o domingo acabando de novo. E rimos, tomamos nosso café, e choramos. E o papo é profundo e tal e de repente é só pra gente se achar muito em Paris ou Buenos Aires. E não de novo com o domingo acabando no mesmo lugar de sempre. E ligo pro meu amigo “posudo”. E ele vem cheio de cigarros, músicas, doenças e interpretações perfeitas a respeito da minha maluquice. E se esforça pra focar em mim, porque, assim como eu, ele gosta mesmo é de falar de si. E ligo pro velho amigo de sempre. E ele vem correndo, segurar meu coração, aliviar meu pescoço e dizer que nada mudou, foram 56 mil anos mas nada mudou. Ele ainda está aqui pra mim.

E assim consigo dormir mais um dia, passar mais um dia, viver mais algumas horas, sem ligar pra única pessoa que eu queria ligar. Consigo seguir em frente mais um dia sem ligar pra ele. Consigo distrair meus dedos, minha mente, meu peito, minha violência, meu buraco, minha vertigem, meu soco no estômago, meu desespero, meu automático, meu extinto contrário, minha curiosidade infantil mas sempre com resultados duros demais para uma criança, minha vontade de enfiar o dedo na tomada só pra sentir a descarga mortal que tanto parece com impulso de vida. Consigo distrair os batimentos cardíacos que sinto em lugares do meu corpo que ainda queriam mais um toque dele. E partes da minha pele que saem buscando porque ainda não receberam a informação do fim, o sangue ainda não levou a má notícia para meu corpo todo. E consigo distrair minhas roupas, que querem se mostrar, cada dia uma diferente, para ele. Só para ele. E distrair meus ouvidos loucos pela sua voz. E distrair meus pés loucos pra encaixar atrás da sua batata da perna. E distrair minha língua, querendo decodificar e marcar cada centímetro das suas estranhezas. E distrair a crença cansada, a saudade renegada. Distrair essa sobrinha de você que continua enorme, mesmo sendo, agora, uma sobrinha.

A conta vem cara, os amigos são muitos, as risadas invadem, o sofrimento dissipa. Eu sigo. Eu sigo sem ligar. A mão captura rápido o celular, eu começo a colocar o número dele. Mas passa. Ligo pra outro. E outro. E outro. E passo mais um dia sem fazer o que eu sei que não devo. Tudo o que ainda pensa e se preserva em mim grita e eu escuto. Sem cabimento, sem história, sem motivo, sem eco, sem colo, sem cumplicidade, sem acolhimento, sem nada. O que mais eu quero ouvir? O que falta para eu entender que acabou? Que dor falta sentir? Que parte do meu conformismo estava de férias essas semanas? O que falta viver em cemitérios abandonados? O que falta sentir em peitos esfaqueados? O que falta amarrar nesse emaranhado de fios dilacerados que eu virei? O que falta amar em olhares escondidos? O que falta acreditar quando a verdade é tão absurda que ocupa tudo? Não passo de uma força descontrolada que vai dar com a cara na parede branca, dura e incorruptível. Não ligue, Tati. Ligue para o mundo inteiro, encha o mundo inteiro, canse o mundo inteiro, ame o mundo inteiro. Vamos, mais um dia. Tente mais um pouco o resto. Daqui a pouco, esse resto vira rotina. Esse resto vira tudo. E ele será resto. Mais um pouco. Vamos, se esforce. Use essa violência para construir uma parede e não mais para sair esmurrando outras paredes por aí. Vamos, não ligue. Daqui a pouco isso se perde, como tudo. Como todas as pessoas fazem. As pessoas fazem isso, e seguem, equilibradas, frias, certas, velhas, assustadoras. Você pode ser como elas. Você é como elas. Não, você não é. Mas foda-se. Mesmo assim, não ligue. Nunca mais.
::: Mulheres são chatas :::
Tati Bernardi

Certa vez um diretor de teatro cismou comigo. Ah, seus textos isso, seus textos aquilo. Sua foto isso. Você, Tati. Ah, que mulher. E durante quatro meses ele me mandou e-mails quase diários a respeito dessa adoração.

Aí ele finalmente veio estrear sua peça em São Paulo. E quero te ver daqui, preciso te conhecer dali. Você, Tati. Ah, que mulher.

E o cara me mandava e-mails nos intervalos da peça, pouquinho antes de começar, pouquinho depois de terminar. Durante os ensaios. Uma obsessão que nunca vi. E me mandava senhas de ingressos com cadeiras na primeira fileira. E traga quem você quiser, mas melhor que venha só. Preciso te conhecer, preciso. Você, que mulher.

E eu fui. Ah, eu fui. Quatro meses no meu pé, tamanha obsessão. Eu fui. E achei ele gato e interessante. E confesso que ele foi, nessa minha vida bem aproveitada, o melhor beijo na boca que já dei.

E a coisa crescia. Seu cheiro, seu cabelo, seu sorriso, sua cintura. O cara, se pudesse, me enquadrava e me colocava na sala. Se pudesse, me fazia virar uma estátua na entrada do apartamento. Nunca ninguém ficou tão encantado por mim. Ele chegou ao ponto de, no último dia da peça em cartaz em São Paulo, agradecer a Deus olhando pra mim, que estava que nem besta, de novo, na primeira fileira. Tipo: eu era Deus!

E então, transamos, e a coisa só piorou. Porque seus olhos fechados, porque você dormindo, porque você acordando, porque tomar banho com você, porque eu sei, mulher da minha vida, primor intelectual, sensibilidade absurda, humor genial, maldade charmosa, que mulher, que mulher, que mulher, eu nunca mais viverei sem você, não agüento ficar longe, você pode tudo, é você, é você. E me apresentava pros amigos “se preparem pra amar essa mulher pra sempre, porque é o que eu vou fazer”. E não existia quarta, nem quinta e nem terça. Todo dia era sábado. Todo dia era dia de namorar e ouvir aquelas coisas todas. E ele me mostrava sua foto criança “olha a cara do seu filho”. E ai de mim se topasse sair com alguma amiga ao invés de ir naquele flat onde ele quase me embalsamava de tanto amor e sexo e planos.

E eu quieta, vendo aquilo tudo. Querendo acreditar aos poucos mas acreditando rápido porque, afinal, a vida é um saco e eu deveria mesmo merecer tudo aquilo. Por que não? Sim, sim, eu merecia! Claro.

E então, numa tarde, depois de tantos elogios e melhores beijos do mundo e carinhos na nuca para eu dormir mais rápido e um anel de ouro branco que ele mandou fazer escrito “I Love you” na parte de dentro, eu resolvi que gostava do cara. É, acho que eu curto esse cara. Olha, tô achando que eu amo esse cara.

E porque resolvi que então eu estava naquela relação e qualquer mulher que resolve isso precisa de algumas garantias e conversas que vão além da ostentação teatral e da euforia sexual, achei que não teria problema nenhum em dizer pra ele, o quanto eu estava sofrendo com o final da peça, se ele ia mesmo vir pra São Paulo me ver toda semana, se ele ia se comportar no Rio, longe de mim, com aquelas vadias bundudas querendo uma chance na TV. Se ele me amava mesmo. Como seria com ele longe. Se ele achava que aquilo tinha futuro mesmo. Aquela ladainha normal de qualquer mulher que se sente à vontade pra ser chata depois do cara ter ganho o cartão “sou insuportavelmente louco, apaixonado e obcecado por você, fucking woman of my life”.
E ele coçou a batata da perna. Espreguiçou. Fungou fundo a respiração. Foi tomar banho sem falar nada. Ficou dois longos dias sem me ligar. E depois, porque eu fiquei sem entender nada e fui pro Rio, desesperada, ver o que estava acontecendo, ele me disse, com uma frieza e um distanciamento que até hoje me dilaceram e me fazem temer a vida: “ah, Tati, você é chata”.

É, mulheres são chatas mesmo. O que é melhor, muito melhor, infinitamente melhor, do que ser você.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

::: 1x0 Eu :::
Dibob

Você me perdeu, não percebeu, que não deu valor pra mim
Agora é tarde demais, já não te quero mais
Vai ter que aprender a viver assim


Pois quando me tinha não soube cuidar
Ganhava sempre no seu jogo de amar
E agora vem correndo pedindo pra voltar;
Não vai dar

O jogo inverteu, você se perdeu e o seu filme queimou
Mas vai ser bom pra você, você vai aprender a dar mais valor pra quem te deu

Você abusou do meu amor e tá pedindo pra voltar, e eu to dizendo não vai dar

quarta-feira, dezembro 10, 2008

::: Tears Dry On Their Own :::
Amy Winehouse

All I can ever be to you,
Is a darkness that we knew,
And this regret I've got accustomed to,
Once it was so right,
When we were at our high,
Waiting for you in the hotel at night,
I knew I hadn't met my match,
But every moment we could snatch,
I don't know why I got so attached,
It's my responsibility,
And you don't owe nothing to me,

But to walk away I have no capacity

He walks away,
The sun goes down,
He takes the day but I'm grown,
And in your way, in this blue shade
My tears dry on their own,

I don't understand,
Why do I stress A man,
When there's so many bigger things at hand,
We could a never had it all,
We had to hit a wall,
So this is inevitable withdrawal,
Even if I stop wanting you,
A Perspective pushes through,
I'll be some next man's other woman soon,

I shouldn't play myself again,
I should just be my own best friend,
Not fuck myself in the head with stupid men,

So we are history,
YOUR shadow covers me
The sky above,
A blaze only that lovers see

I wish I could say no regrets,
And no emotional debts,
Cause that kiss goodbye the sun sets,
So we are history,
The shadow covers me,
The sky above a blaze that only lovers see,

He walks away,
The sun goes down,
He takes the day but I'm grown,
And in you way,
My deep shade,
My tears dry

sábado, dezembro 06, 2008

::: If I Were a Boy :::
Beyoncé

If I were a boy
Even just for a day
I'd roll outta bed in the morning
And throw on what i wanted then go
Drink beer with the guys
And chase after girls
I'd kick it with who I wanted
And I'd never get confronted for it
Cause they'd stick up for me

If I were a boyI think i could understand
How it feels to love a girl
I swear i'd be a better man
I'd listen to her
Cause I Know how it hurts
When you lose the one you wanted
Cause he's taken you for granted
And everything you had got destroyed

If were a boy
I would turn off my phone
Tell everyone it's broken
So they'd think that i was sleepin alone
I'd put myself first
And make the rules as a goal
Cause I know that she'd be faithful
Waitin' for me to come home
To come home

If I were a boy
I think i could understand
How it feels to love a girl
I swear i'd be a better man
I'd listen to her
Cause I Know how it hurts
When you lose the one you wanted
Cause he's taken you for granted
And everything you had got destroyed

It's a little too late for you to come back
Say its just a mistake
Think i'd forgive you like that
If you thought i would wait for you
You thought wrong

But you're just a boy
You don't understand
Yeah you don't understand
How it feels to love a girl someday
You wish you were a better man
You don't listen to her
You don't care how it hurts
Until you lose the one you wanted
Cause you've taken her for granted
And everything you have got destroyed
But you're just a boy

quinta-feira, dezembro 04, 2008

::: Correspondência Velada :::
Ana Paula Mangeon

O espaço ficou distante demais
e eu já não conto estrelas.
Crescemos e nos tornamos
descuidados conosco.

(Eu sempre muito mais atabalhoada que você).

Os pés no chão não parecem âncoras,
mas são.
E as naus vagam feito
barquinhos de papel
passeando numa sarjeta qualquer
num dia, assim, mais pluvial.

Eu tenho sede de outras coisas
Aquele arrepio do vento,
de tesão em ir, é só um suspiro frio.

As hibernações viraram
conseqüências simples
das coisas mundanas e tangíveis
que nos tornam os egoísmos aceitáveis
e nos fazem pedir desculpas pelas ausências
prometendo presenças sem círculos vermelhos na agenda.

(Pena que meu umbigo não me dê seus bons conselhos.
Acho que eu me preocupo mais com ele
que ele comigo no final das contas.)

Um dia os bilhetinhos iam rarear
Eu sabia.
Você também.
E haveria outros destinatários
Para tentar roubar, sem sucesso,
Este algo que é só meu e seu.

Talvez seja por isso que hoje
os carteiros não mais se anunciem:
Eles apenas enfiam suas palavras
por debaixo de minha porta,
sem procurar saber
quando eu estou em casa
dormindo comigo.
Sem o cuidado que merecem
essas cartas silenciosas
que chegam mesmo sem que você indique o endereço.

Essas cartas
que você me escreve com caneta permanente
em folhas de papel-espelho.
::: Musa :::
Ana Paula Mangeon

Ela é feliz.
Ela lhe ama.
Ela vem de trem.

Vem sem bagagem,
não traz tristezas.

Seu nome é Dulce.
E ela é um verso de amor.