terça-feira, abril 28, 2009

::: Para não sentir dor :::
Tati Bernardi

Para não sofrer eu vou me drogar de outros, eu vou me entupir de elogios, eu vou cheirar outras intenções. Vou encher minha cara de máscaras para não ser meu lado romântico que tanto precisa de um espaço para existir ridiculamente.

Não vou permitir ser ridícula, nem uma lágrima sequer, nem um segundo de olhar perdido no horizonte, nem uma nota triste no meu ouvido. Eu sei o quanto vai ser cansativo correr da dor, o quanto vai ser falso ignorar ela sentada no meu peito. Mas vou correr até minha última esquina. Vou burlar cada desesperada súplica do meu coração para que eu pare e sofra um pouquinho, um pouquinho que seja para passar.

Suor frio da corrida, sempre com sorriso duro no rosto e o medo de não ser nada daquilo que você me fez sentir que eu era. Muita maquiagem para esconder os buracos de solidão. Muita roupa bonita para esconder a falta de leveza e de certeza do meu caminho.

E por que vendo tanto meu corpo e tão pouco minha alma? Porque quero ver você comprando o que realmente quer e não enganando querer para levar a promoção.

Cansei das promessas de compra e das devoluções gastas do meu corpo. Cansei de expor minha alma se no fim tudo acaba mesmo. Então tá aqui ó: peitinhos, coxas, barriga e o buraco que você tanto quer.

Leve de uma vez e me engane por alguns dias. Você é igual a todos os outros e todos os outros são: lixo. O amor não existe, e, se existe, não dura pra sempre. E, se não dura pra sempre, não é amor. E nada dura pra sempre. E então o amor não existe.

Estou amarga com simplicidade, e isso é relaxante já que vivo cheia de complicações. A amargura é muito mais simples que a esperança. Estou triste do tamanho do buraco sem vida que você deixou em mim, uma concavidade sonhadora que ainda pulsa um desejo que ao mesmo tempo enoja.

Ainda sinto você aqui dentro e toda a energia boa de vida que esta lembrança poderia gerar em mim, mas essa energia sem escape, sem válvula, sem história, essa energia inocentemente transformada em ódio, só carrega ondas que me corroem por dentro.

Mas para não sentir dor eu vou jurar ao último ouvido do meu universo o quanto você é descartável. O quanto sua molecagem não permitiu nenhuma admiração de minha parte.
Para não sofrer não vou permitir minha cabeça no travesseiro antes do cansaço profundo e sem cérebro. Não vou permitir admirar coisas da natureza porque talvez eu me lembre de você ao ver algo bonito.

Não vou permitir silêncios porque é aí que o meu fundo transborda e a tristeza pode me tomar sem saída. Eu vou continuar deixando a minha cabeça me martelar porque toda essa confusão é ainda menos assustadora do que a calmaria da verdade.

A verdade é a frieza do mundo, é a podridão dos desejos, são as mentiras que a gente inventa para os outros e acaba acreditando. A verdade é que mais cedo ou mais tarde você será traído, porque todo mundo tem medo de viver a entrega. A verdade é que ninguém se entrega porque ninguém se tem. A verdade é que não estamos aqui, estamos em algum lugar seguro vivendo nossas vidas medíocres. A verdade é que todo esse perfume é vergonha de nossa essência, todas essas marcas são vergonha do nosso corpo, todo esse charme despretensioso é vergonha de nossas fraquezas. A verdade é que nada é inteiro porque até o inteiro para ser todo precisa ter seu lado vazio. A verdade é que não dá para fugir da dor, e eu continuo correndo, correndo, correndo e não saindo do mesmo lugar.
::: Good Girl Gone Bad :::
Rihanna

We stay, moving around, so low
Ask us where you went, we don't know
And don't care (don't care)
All we know is we was at home cause you left us there
You got your bus and got gone
And left us all alone
Now she in the club with a freaky dress on
cats don't want her to keep that dress on
Tryin to get enough drinks in her system
Take it to the tele and make her a victim

Controlling the brain, ball play you in the face
They shake the spot, she's just another case

Easy for a good girl to gone bad
And once we've gone (gone)
There's belief we've gone forever
Don't be the reason
Don't be the reason
You better learn how to treat us right
Cause onces a good girl goes bad
We die forever

He's staying with a flock of them oh, yeah
Got a girl at home but he don't care
Won't care (won't care)
All he'll do is keep me at home, won't let me go no-where
He thinks because I'm at home I won't be gettin it on
And now I'm finding numbers in the jacket pockets
Chicks calling the house, no stop its
Getting out of control
finally I can't take no more
Because I met her on the stairs, saying this is the end
I packed my bag and left with your best friend

Easy for a good girl to gone bad
And once we've gone (gone)
There's belief we've gone forever
Don't be the reason
Don't be the reason
You better learn how to treat us right
Cause onces a good girl goes bad
We die forever

We stay, moving around, so low
Ask us where you went, we don't know
And don't care (don't care)
All we know is we was at home cause you left us there
You got your bus and got gone
And left us all alone

Easy for a good girl to gone bad
And once we've gone (gone)
There's belief we've gone forever
Don't be the reason
Don't be the reason
You better learn how to treat us right
Cause onces a good girl goes bad
We die forever

We've gone forever
We've gone forever

segunda-feira, abril 27, 2009

::: Relicário :::
Cássia Eller

É uma índia com colar
A tarde linda que não quer se pôr
Dançam as ilhas sobre o mar
Sua cartilha tem o "A" de que cor?

O que está acontecendo?
O mundo está ao contrário e ninguém reparou
O que está acontecendo?
Eu estava em paz quando você chegou

E são dois cílios em pleno ar
Atrás do filho vem o pai e o avô
Como um gatilho sem disparar
Você invade mais um lugar onde eu não vou

O que você está fazendo?
Milhões de vasos sem nenhuma flor
O que você está fazendo?
Um relicário imenso desse amor

Corre a lua, porque longe vai?
Sobe o dia tão vertical
O horizonte anuncia com o seu vitral
Que eu trocaria a eternidade por essa noite

Porque está amanhecendo?
Peço o contrário, ver o sol se por
Porque está amanhecendo?
Se não vou beijar seus lábios quando você se for

Quem nesse mundo faz o que há durar
Pura semente, dura o futuro amor
Eu sou a chuva prá você secar
Pelo zunido das suas asas você me falou

O que você está dizendo?
Milhões de frases sem nenhuma cor
O que você está dizendo?
Um relicário imenso desse amor

O que você está dizendo?
O que você está fazendo?
Porque que está fazendo assim?
Está fazendo assim!

terça-feira, abril 21, 2009

::: All Star :::
Cássia Eller

Estranho seria se eu não me apaixonasse por você
O sal viria doce para os novos lábios
Colombo procurou as Índias
Mas a terra avisto em você
O som que eu ouço são as gírias do seu vocabulário

Estranho é gostar tanto do seu all star azul
Estranho é pensar que o bairro das Laranjeiras
Satisfeito sorri quando chego ali
E entro no elevador
Aperto o 12 que é o seu andar
Não vejo a hora de te encontrar
E continuar aquela conversa
Que não terminamos ontem
Ficou pra hoje

Estranho mas já me sinto como um velho amigo seu
Seu all star azul combina com meu preto de cano alto
Se o homem já pisou na lua
Como ainda não tenho seu endereço?
O tom que eu canto as minhas músicas pra tua voz
Parece exato

Estranho é gostar tanto do seu all star azul
Estranho é pensar que o bairro das Laranjeiras
Satisfeito sorri quando chego ali
E entro no elevador
Aperto 12 que é o seu andar
Não vejo a hora de te encontrar
E continuar aquela conversa
Que não terminamos ontem
Ficou pra ...Laranjeiras

Satisfeito sorri quando chego ali
E entro no elevador
Aperto o 12 que é o seu andar
Não vejo a hora de te encontrar
E continuar aquela conversa
Que não terminamos ontem
Ficou pra hoje

sábado, abril 18, 2009

::: O especulador :::
Tati Bernardi

Você me disse gigantesca com tanta convicção que me tornei como sou. Enorme.
Você injetou em mim as riquezas que eu um dia daria em dobro. E só posso imaginar que eu seja realmente um private equity muito bem feito: você nem quis ficar pra receber.

Minha empresa agora é grande. E foi você quem a tirou do zero, do vermelho, das dívidas. Eu olho tudo, tudo bem. Mas não caio, não pego mais os clientes pequenos, as ofertas baixas, as propostas de comércio de bairro, os trabalhos chatos, os restos pra fazer algum fundo. Minha sala tem milhares de cadeiras caras e computadores e do meu aquário de vidros transparentes vejo o mundo. Tenho armazenado o suficiente pra nem precisar sair de casa.

Você me tornou milionária quando inflacionou seus sentimentos e sentidos e intenções. Ainda que fosse especulação, eu realmente me senti merecedora de ouvir tudo aquilo. De ser vista como você parecia me ver. E nunca mais na minha vida vou querer menos.

Ainda que fosse especulação, ainda que especulação com pessoas traga menos pessoas, ainda que você coloque valores além das suas reservas e mesmo crenças. Ainda que você dê um preço que não paga depois. Ainda que você se canse justamente porque seu talento em subir não condiz com sua preguiça de escadas. Mãos de basquete e peito de fumante. Ainda que você crie monstros com asas quando exalta além da rasante dos anjos. Como se todos nós não voássemos baixo em busca de um abraço. Que graça tem estar acima do mundo ou só amar o que é possível ali colocar?

Ainda que especuladores enxerguem o que os outros não veem mas não tenham humanidade para o contento. A parada. Dinheiro, gente, pouco importa. Querem mais, colecionadores, mais, mais. Porque no fundo, isso tudo pouco importa. Louco de verdade não é quem rasga dinheiro. É quem rasga pessoas.

Ainda que seja triste se movimentar com o que os outros guardam para viver. Essa nação inteira que eu poderia ter sido pra você, completamente quebrada. Ainda que seja típico dos especuladores amar o risco justamente por não assumi-lo. Ainda que eu tenha me confundido o tempo todo com investimento. Era saqueamento. Era amor de blefe. Era um jogo pra ver se era possível, se você era realmente tão bom que enganaria a si próprio. Mas você é tão bom que é melhor até do que você. Ouvi hoje na peça "A Alma Imoral”: só quem não se permite ser tolo se torna perverso.
Ainda assim, obrigada.

Alguns mentem se importando tão pouco que movem o mundo. Acabou que eu acreditei nesse valor antes inimaginável. Paguei quase sem poder. Comprei com reservas emprestadas de todos os meus cantos e mais alguns que inventei. Vou me pagar em mil parcelas pelo resto da vida. Mas não vendo nunca mais.

quarta-feira, abril 15, 2009

::: Abismo :::
Tati Bernardi

O garoto sai do banheiro feminino achando graça. Tava muito apertado e não rolou esperar pra usar o outro. Gosto dele de cara. É o tipo de garoto gatinho, tímido e ansioso que você sabe exatamente como se comporta pelado: cachorrinho, demorado e desinibido. Gosto mas faço de conta que não. Sorrio superior afinal sou pelo menos uns sete anos mais velha e uns quinze mais esperta. Ele entende na hora tudo e compra a submissão. Faço meu xixi com pressa porque gostei mesmo do garoto.

Ele senta perto de mim na mesa. Está na mesma festa que eu, com a diferença que eu já fui chefa do chefe dele. Só aí já é um bom motivo pra ele me olhar baixo mesmo. E ir com muita calma. Ele mexe no cabelo, ajeita a calça pra sentar, alinha a carteira com o celular em cima da mesa. Que garotinho bonito. Ele está nervoso e fica ainda mais bonito. Gosto muito dele.

Ele então começa a rir alto. Contar de garotas da idade dele. Se exibir para garotas da idade dele. Ele é o sucessinho da festa. Faz tudo pra chamar a minha atenção. Eu sei. A cada dois segundos ele olha pra saber se eu estou olhando. E ri. Eu só espio por cima dos meus óculos. Sem nem gostar e nem não gostar.

Quando dou por mim, que absurdo, estou pegando um cigarro da minha amiga. Acendo, não trago, mas faço pose. Olho pro horizonte. Sou sofrida, você vê, garotinho? Sou tão sofrida e experiente e estranha e terrivelmente charmosa. Percebe? Você aí, com essa alegria terrível de viver e jorrando beleza e graça pra cima de mim. E eu aqui, arqueada pelo tanto que carrego de mundo e suas rasteiras. Você acha que é quem pra me abalar assim? Eu li muitos mais livros que você. Conheço mais países e pessoas e gemidos e vontades de morrer. E você com tanta graça pra cima de mim. Percebe que não vai ser fácil? Vou dificultar bastante pra você. Até porque é só o que eu posso contra essa coisa fácil e linda que é a sua vontade. Contra você eu só tenho a minha impossibilidade. Como se todos não a tivessem. Contra seus olhos que sorriem e isso me mata tanto, só tenho a parede nojenta que criei pra você jamais descobrir que sempre compro duas entradas para o concerto. Na espera do que não quero.

Ele senta ao meu lado. Cara de pau. Me provoca. Diz coisas inteligentes e delicadas. Eu acendo outro cigarro. Seguro a tosse e a ânsia. Hoje eu fumo e isso é como um braço meu. Não venha querer me dizer como deve ser um braço meu ou eu soco você. Pergunto se ele quer conhecer minha casa. Ele fica assustado e ri. Ele pede mais uma água com gás, sem gelo e com limão. Eu não sei o que acontece comigo, mas peço uma taça de vinho e bebo como macho. Ele me pergunta o que eu faço da vida. Eu respondo: nada. Eu não faço nada. Eu leio, o dia todo. Tô louca pra contar que sou escritora e roteirista e todo o blábláblá mas me dá a louca e eu respondo isso. Eu leio o dia todo. Ele estranha, arregala os olhos. E quem paga suas contas? Eu respondo que não pago contas. Odeio todas elas. Odeio qualquer cobrança. Aos poucos, sinto um prazer descomunal. Acendo mais um cigarro. Resmungo algo sobre Deus ser como os cinzeiros. Nunca estão onde a gente precisa. Se é que existem. Dessa vez tusso, não estou dando conta do personagem, mas sigo em frente reclamando: preciso parar, sabe? O médico falou que já passou da hora. Aliás, odeio qualquer um querendo cuidar de mim. Ou saber da minha vida.

O garoto topa vir para a minha casa. Ele chega querendo me contar mil histórias mas eu pouco suporto a metralhadora. Pessoas são interessantes só na minha imaginação. A partir do momento que elas passam a ter vida própria, sinto vontade de jogá-las pela minha janela. Ele perde a graça a cada minuto e eu o odeio por isso. Eu estava feliz por gostar de algo e sair de mim. Mas não mantenho nada aqui dentro. E já sinto o tédio novamente. Largo o mala falando sozinho e vou para a minha varandinha. Não sei e nem quero saber dessas coisas que ele quer me mostrar que sabe. O quê? Sei lá que livro de merda é esse. Coloco Keith Jarrett no ultimo volume e vou ficar terrivelmente sombria olhando para as casas em torno de mim. Fumando de um patamar jamais escalado por qualquer ser humano. Pior ainda os bem intencionados. Ele está louco por mim. Eu sou tão misteriosa e inatingível e dura e alta. Ele me abraça por trás. Eu gosto dele. Eu gosto muito dele. Mas não posso. Não quero. Ele é chato, mala. Sai daqui, garoto. Daqui a pouco ele vai precisar de mim ou eu vou precisar dele. E seremos mais um casal. E se eu quiser ficar desfacelada num canto e ele sofrer com isso? E me ameaçar, como todos, dizendo que vai deixar de me querer só porque sou assim, tão incapaz de querer? Ele vai descobrir. Eu estou morta. Ele vai descobrir. Eu morri há muitos anos quando era para eu ter morrido. Por isso não acendo a luz, minhas plantas são um pouco secas e murchas, minha casa é rachada, bagunçada, suja, mal assombrada. Não quero planejar, sair da cidade, ter um filho, conhecer seu melhor amigo, ver suas fotos, largar esse cigarro maldito, cuidar dos meus dentes, colocar perfume, fazer um exame de saúde. Não quero. Porque eu estou morta. Eu nem saio mais em fotos. Sou um fantasma. Amo com a intensidade de um último sopro, mas sempre morro em seguida. Ele vai descobrir. Ele vai me amar muito porque nessa tentativa de amar sou tão única e especial e absurda e perfeita e tudo. Mas depois. Nada. Vou deixar que ele me reanime com o choque e então será tão bom. Mas depois. Quieto e sereno como os elefantes que sabem o dia que vão morrer. Vou caminhar enorme e derrotado e cinza e sem drama para a minha vala.

Ele me abraça e é tão bom. Ele é só mais um tentando me salvar. São sempre os bonzinhos e puros que caem no meu papo furado de longa espera por algo que valha. Faço eles se sentirem um presente do mundo pra mim. Finalmente o escolhido. Os desembrulho de tal modo e eles têm certeza. É a primeira vez que se abrem. Agradeço a surpresa e torno a vida deles tão superior a tudo que já foi vivido que fica praticamente impossível voltar pro mundo.

Ele pergunta o que eu tenho. E então começa o festival de sempre. Tenta me alegrar e eu ignoro. Tenta me emocionar e eu ignoro. Se fecha e eu ignoro. Me enche de beijos e eu reclamo. Estou fedida. Me deixa, me deixa. Ele desiste e desaba no meu sofá. Ele não sabe o que fazer. É o desfecho grandioso da crueldade do meu personagem. O momento em que deixo claro que a pessoa quase conseguiu. Algo impossível e você chegou tão perto! Nunca ninguém chegou tão perto! Por que você foi estragar tudo no final? Eu estava a fim. Abri minha casa para você. Você tinha tudo pra me dobrar. Mas você não conseguiu. Balanço a medalha na frente dele pra depois dizer que nunca ninguém chegou tão perto de usá-la. E então, lanço o caralho da medalha pra puta queu pariu. Ouvimos o som dela se espatifando longe e para sempre. O garoto vai embora se achando um lixo. Mas conforme anda, volta a sentir seus músculos e cores e sentidos. Que sensação é essa que mata a gente só porque escapamos da morte? De cada amor, tu herdarás só o cinismo. Ele vai embora enquanto espio. Eu vou embora junto. Quem é que fica?

sábado, abril 11, 2009

::: Meu Mundo Ficaria Completo (Com Você) :::
Cássia Eller

Não é porque eu sujei a roupa bem agora que eu já estava saindo
Nem mesmo porque eu peguei o maior trânsito e acabei perdendo o cinema
Não é porque não acho o papel onde anotei o telefone que eu tô precisando
Nem mesmo o dedo que eu cortei abrindo a lata e ainda continua sangrando
Não é porque fui mal na prova de geometria e periga d'eu repetir de ano
Nem mesmo o meu carro que parou de madrugada só por falta de gasolina
Não é por que tá muito frio, não é por que tá muito calor

O problema é que eu te amo
Não tenho dúvidas que com você daria certo
Juntos faríamos tantos planos
Com você o meu mundo ficaria completo
Eu vejo nossos filhos brincando
E depois cresceriam e nos dariam os netos

A fome que devora alguns milhões de brasileiros
Perto disso já não tem importância
A morte que nos toma a mãe insubstituível de repente dela, já nem me lembro
A derrota de 50 e a campanha de 70 perdem totalmente seu sentido
As datas, fatos e aniversariantes passam
Sem deixar o menor vestígio
Injúrias e promessas e mentiras e ofensas caem fora pelo outro ouvido
Roubaram a carteira com meus documentos
Aborrecimentos que eu já nem ligo
Não é por que eu quis e eu não fiz
Não é por que não fui
E eu não vou

O problema é que eu te amo
Não tenho dúvidas que eu queria estar mais perto
Juntos viveríamos por mil anos
por que o nosso mundo estaria completo
Eu vejo nossos filhos brincando com seus filhos
E depois nos trariam bisnetos

Não é porque eu sei que ela não virá que eu não veja a porta já se abrindo
E que eu não queira tê-la, mesmo que não tenha a mínima lógica nesse raciocínio
Não é que eu esteja procurando no infinito a sorte
Para andar comigo
Se a fé remove até montanhas, o desejo é o que torna o irreal possível
Não é por isso que eu não possa estar feliz, sorrindo e cantando
Não é por isso que ela não possa estar feliz, sorrindo e cantando
Não vou dizer que eu não ligo, eu digo o que eu sinto e o que eu sou

O problema é que eu te amo
Não tenha dúvidas pois isso não é mais secreto
Juntos morreríamos, pois nos amamos
E de nós o mundo ficaria deserto
Eu vejo nossos filhos lembrando
Com os seus filhos que já teriam seus netos
::: Palavras Ao Vento :::
Cássia Eller

Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar
Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será

Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras

Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar
Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será

Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras, momento

Palavras, palavras
Palavras, palavras
Palavras ao vento...

terça-feira, abril 07, 2009

::: Fora do Comum :::
Tati Bernardi

Queria que algum canto do mundo me acolhesse. E me abraçasse e dissesse que tudo bem, tudo bem de vez em quando eu perder assim a razão ou o equilíbrio. Eu queria que existisse um canto do mundo que nunca me dissesse "hey, tati, você se expõe demais" e que me deixasse ser assim e apenas me deixasse ficar quietinha e quente quando o mundo resolvesse me magoar, porque eu sou briguenta, mas sou mais sensível que maria-mole na frigideira. Eu queria ir para um planeta onde não existisse tempo de beijar e tempo de pirar. E eu pudesse ir agora no seu mundo e te beijar até enjoar de você. E eu pudesse, de repente, gritar bem alto, porque me irrita esses milhares de sons tecnológicos que você faz. Para mostrar que meio mundo te procura enquanto eu não posso te procurar porque a cartilha da vovó que casou dizia que a mulher nunca pode procurar o homem se não quiser ser usada por ele. Eu queria mandar para aquele lugar a cartilha da vovó. E queria tirar essa voz do meu pai da minha cabeça, dizendo "minha filha, homem não gosta dessas coisas". Eu sei que sou exatamente o que 98% dos homens não gosta ou não sabe gostar (apesar de eles nunca me deixarem em paz). Eu falo o que penso, abro as portas da minha casa, da minha vida, da minha alma, dos meus medos. Basta eu ver um sinal de luz recíproca no final do túnel que mando minhas zilhões de luzes e cego todo o mundo. Sou demais. Ninguém entende nada. E eles adoram uma sonsa. Adoram. Mas dane-se. Um dia um louco, direto do planeta dos 2% de homens, vai aparecer. E que se dane a natureza gritando no meu ouvido que não posso ser assim. Que a boa fêmea sabe esperar nove meses, portanto deve saber esperar uma ligação ou um sinal de "pode avançar no joguinho". Eu não sei esperar nada. E a natureza gritando no meu ouvido que então, já que sou birrenta, vou ficar sem nada mesmo. Porque é preciso saber viver. Atiram a gente nesse mundo, nosso coração sente um monte de coisa desordenada, nosso cérebro pensa um monte de absurdo. E a gente ainda precisa ser superequilibrada para ganhar alguma coisa da vida. Como se só por estar aqui, aturando tanta maluquice, a gente já não devesse ganhar aí um desconto para também ser louco de vez em quando. Quem é essa natureza maluca, quem é esse mundo maluco? Quem são esses doidos que exigem tanta certeza e tanta "finesse" e tanta postura da gente? E eu queria te beijar até enjoar. Porque eu só sei curar uma vontade de me entorpecer de alguém quando sugo a pessoa até a última gota. O problema é que, nesse mundo sem graça com celulares que apitam e mensagens no Messenger que apitam e policiais mentais que apitam "hey, tati, segura a onda, não deixe ele perceber que pode comandar seu coração mole", ninguém mais sabe nem sugar e nem ser sugado até a última gota. Fica uma droga de um joguinho superficial de trocas superficiais. E ai de quem resolva sair disso. Vai ser tachado de louco de pedra. Maluco. E as meninas sonsas se dando bem, e eu dormindo abraçada com o travesseiro sem dono da cama de casal. Queria que ao menos algum canto do mundo me acolhesse. E me abraçasse e dissesse que tudo bem, tudo bem de vez em quando eu perder assim a razão ou o equilíbrio. E repetir e repetir e repetir o erro. E jurar que da próxima vez eu serei normal. E jurar que da próxima vez eu obedecerei a natureza, meu pai, a cartilha da vovó ou as meninas sonsas. E virar a rainha dos 98% de homens que não sabem o que fazer com uma pessoa que nem eu. E depois chutar todos eles, porque no fundo tô pouco me lixando pra essa maioria idiota. Pode até ser meio solitário correr contra a maré, mas como é gostoso olhar a multidão do outro lado e enxergar todo mundo pequenininho.

quarta-feira, abril 01, 2009

::: Devolva-me :::
Adriana Calcanhoto

Rasgue as minhas cartas
E não me procure mais
Assim será melhor
Meu bem!

O retrato que eu te dei
Se ainda tens
Não sei!
Mas se tiver
Devolva-me!

Deixe-me sozinho
Porque assim
Eu viverei em paz
Quero que sejas bem feliz
Junto do seu novo rapaz...