terça-feira, fevereiro 03, 2004

::: Tudo na Vida Acaba :::
Antonio Caetano

Não chore. Tudo nesta vida acaba. Até o amor - que só parece eterno se a morte o interrompe. Também o amor, o verdadeiro amor, é uma espécie de solidão. Também o amor lembra a imagem que nos devolvem os espelhos: útil, minuciosa e muda, nela vemos o que quer ver nossa vaidade ou nossa melancolia.
Não chore nem se interrogue sobre as razões do outro para partir talvez quase sem explicação. Quando amamos, não nos ocorre perguntar porque amamos ou somos amados. Menos sentido ainda há em perguntar porque deixamos de amar ou de ser amados. Não, não haverá resposta.
A boa filosofia nos ensina que a causalidade, a generalização e a negação, instrumentos necessários quando se trata de fazer ciência, não existem como relação real neste mundo - onde imperam a liberdade, o acaso, a singularidade e o ser. É, portanto, inútil buscar causas ou tentar extrair da experiência passada alguma máxima consoladora que nos previna de dores futuras.
Não chore mais. Nos apegamos à dor - ou ao menos eu me apeguei a ela quando algo semelhante me ocorreu - porque talvez no fundo saibamos que a dor é ainda o último vestígio do amor que nos recusamos a perder. E dói dobrado saber intimamente que até esta dor passará e então não restará mais nada, a não ser talvez uma vaga e indiferente lembrança (como fotos esquecidas no fundo de uma gaveta).
Pare de chorar. Não seja injusta. Desejar que algo permaneça ou volte a ser o que era é desejar o impossível. A aceitação talvez seja a única coisa a se aprender nesta vida. Não, claro, a aceitação involuntária a que nos obriga a covardia, mas a aceitação que é fruto da generosidade. A vida é pródiga e exuberante. E a finitude o preço que pagamos por sermos únicos.
Se ele voltar, que esteja destinado a encontrar uma outra mulher a quem terá de aprender de novo a amar e a fazer-se amado - e não alguém que, castigada pela ausência, seria capaz de tudo para conservá-lo. Não faça isso: tamanha submissão se tornaria um vício que estragaria a alma dos dois.
Há um sol imenso lá fora. Aceite-o. Você é jovem e bonita e certamente outros homens espreitam. Vá. O sol, o mar, o vento, o galanteio e o olhar dos homens irão aos poucos devolvendo a você a alegria. O tempo fará o resto.
Mas, não esqueça: tudo acaba. É preciso estar ciente disso para fazer com que as coisas durem o quanto puderem durar. Esta a única eternidade possível nesta vida. A única, aliás, desejável.

Um comentário:

Antonio disse...

É engraçado reler,oito anos depois, esse texto. E vc republicou no dia seguinte! Obrigado.