terça-feira, outubro 26, 2004

Cada dia que passa eu me identifico mais e mais com os textos dessa mulher.
Será que toda mulher é assim ou ela adivinha o que se passa na minha vida e na minha cabeça??

::: Que fazer em caso de tédio? :::
Tatiane Bernardi

Minha vida tá chata. Pra cacete. Ou melhor: sem cacete.Eu passo mais de doze horas no trabalho, mais de duas horas na academia, mais de seis horas pra pegar no sono e não sobra nada para acalmar as súplicas dos meus hormônios por uma vida menos meia boca. Eu sigo à risca a dieta da nutricionista para ganhar músculos, os exercícios do personal (sim, eu escrevi isso só para falar que faço personal) para perder a largura da bunda e o balanço desnecessário do músculo do tchau.

Eu cumpro prazos, eu cumpro horários, eu cumpro regras de sobrevivência para não mandar à merda as pessoas chatas do meu trabalho e perder o emprego. Eu cumpro regras de educação para não dizer todas as merdas que me vêm à cabeça quando sou obrigada a aturar pessoas burras, e, por falar em merda: até meu intestino tem funcionado com hora certa. Puta vida chata!

Minha vida tá um Nutry de banana, sabe? Uma esteira no condomínio do prédio? Um homem que te leva para jantar no La Buca Romana e escuta CD de novela? Minha vida tá meia boca pra cacete.

Você também precisa de um motivo para levantar da cama de manhã? Não que eu seja depressiva e tenha dificuldades de levantar da cama, não é isso. Tô falando de LEVANTAR da cama, dar aquele pulo de "bora lá para mais um dia fantástico Tatiane!". Você também precisa de um? Pois é, eu dedico dez minutos da minha manhã procurando um e o único que vem a minha cabeça é "levanta logo porque, se a vida tá chata, perder o emprego só vai piorar".

Antes era tão fácil, quando eu tinha meus 18, 19, 20 anos. Eu levantava da cama porque tinha uma festa na São Francisco cheia de homens pseudopolitizados-sustentados pelo pai com camisetas do Che Guevara. Eu levantava porque tinha cervejada no Mackenzie com todos os meus amigos deslumbrados pela vida que prometia tantas coisas. Eu levantava porque o gatinho da balada (que não sabia nem falar e estava fumado) tinha prometido ligar. Eu levantava porque era estagiária da W/Brasil e propaganda me dava um puta tesão, publicitários me davam um puta tesão e o sonho de ser contratada numa agência grande era quase um orgasmo. Hoje acho festas de faculdade e garotos de balada um porre (até porque não tenho mais idade nem ouvido pra isso) e meu tesão pela propaganda e pelos publicitários brochou sem esperanças de Viagra.

Publicitários em geral são chatos, inseguros, metidos, freqüentam sempre os mesmos lugares, falam sempre as mesmas coisas e acham que a barriga e a careca não importam já que eles têm uma conta cheia no banco, mas na verdade são brochas de tanto trabalhar. Propaganda é só mais uma profissão com tudo o que uma profissão tem de chata (com o agravante de ter criativos que se acham artistas porque no Brasil o cinema ainda é fraco e atendimentos que se sentem tão bostas que soltam frases em inglês para virar o misterMBA). E que fique claro que não estou generalizando, por favor.

Enfim, me perdi no meu veneno, voltando ao assunto: minha vida tá chata, pra cacete. Eu conheço homens aqui e ali, mas nenhum me emociona, os que me emocionam se mostram loosers semanas depois (olha eu brincando de MBA igual a meus amigos atendimentos). Minhas amigas em geral continuam arrastando seus namoros sem emoção e as que juram viver uma vida de emoção vivem bêbadas. E que fique claro que não estou generalizando, por favor.

Meus heróis morreram de overdose: overdose de trabalho, overdose de família, overdose de vida adulta, overdose de ir empurrando com a barriga. Tenho me emocionado com crianças e cachorrinhos, que são em essência o quesão e tudo se resume a algo muito bonito e simples.
De resto, baaaaaahhhhhhh, onde está a diversão? Olha, eu tenho procurado por ela. Eu não tenho estado-estando-desistindo (só para citar mais uma vez meus amigos atendimentos e seus gerúndios MBA). Ela não está na Faria Lima ou na Vila Olímpia com suas garotinhas e garotinhos em série: uma edição sem cérebro. Ela não está na Vila Madalena ainda que eu não tenha desistido de ser despretensiosamente feliz num barzinho despretensioso. Ela não está nos três filmes que assisto por semana para fugir da minha realidade. Ela definitivamente não está em ex-casos, ex-namorados e ex-paqueras.

Às vezes eu acho que ela está na Fnac, na praia ou numa trepadinha sem maiores danos. Mas aí ela escapa como areia das minha mãos assim que eu enjôo do CD, do calor, da falta de amor ou acabo um livro. A felicidade é fugaz, pequena demais para meu vício e meu exagero. Ela não está no meu carro novo, nas minhas roupas novas, no meu novo emprego, no meu salário. E se você vier com aquele papo de que está em mim eu vou te dizer que chupar o título do Freud não vale. Ter alguma consciência, alguma idade e alguma experiência me tornaram exigente. E eu que gostava da diversão em diversidade fiquei com pouquíssimas opções. Fiquei chata. Enfim, sei lá.

Vai ver essa coisa de diversão e felicidade é uma eterna busca mesmo. E vai ver que é por isso que a gente continua levantando da cama.

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