quarta-feira, outubro 03, 2007

::: Way out :::
Ana Paula Mangeon

O problema de se estar quase sempre muito sozinha não é que falte alguém. O desconforto procede desse excesso de mim, de ter tempo e espaço para mergulhar em quem eu sou e me descobrir. Assusto-me com minhas nuances. E quanto mais eu me sei mais impossível de lidar eu me considero. Conhecer-me tão bem é um peso, um peso que não chega a ser uma dor mas incomoda discretamente. Eu não tenho desculpas para nada. O que digo é o que quero dizer. O que sinto é integralmente o que sinto. E eu digo muitas coisas e sinto tudo muito intensamente. E não penso antes de dizer nem me preocupo antes (nem depois) de sentir.

Apaixonava-me então, de tempo em tempo, ou me mantinha apaixonada. Assim girava o foco para fora de mim e me desentendia um pouco. Apaixonar-me dava a oportunidade de me surpreender comigo. E de romance em romance – todos imaginários – fui descobrindo meus limites, minhas canduras, minhas amarguras. Os limites do quanto eu podia me entregar, do quanto não. Até que aconteceu.

De ter o “viver um grande amor” tão minuciosamente planejado, de saber-me ação e reação e pôr-me a esperá-lo, racionalizei também a paixão. E a paixão virou uma outra coisa, inominável, porque não há jeito de sentimento ser sentido quando permeado de razão.

E quando o telefone não toca, eu já não me preocupo. Faço um café com leite. Abro um livro. E quando a saudade aperta, um escrevo uma bobagem e dou um sorriso.

Eu já conheço minha alma bem demais. Demais.

Preciso de pronomes que não sejam eu.
Emergir, enfim, de minh’alma. Romper o casulo.
Preciso de Você. Do outro.
Cuidar de. Não me.
Quero Tu. Te.
Quiçá Nós.
Seja lá Nós, quem formos.

Preciso me desconhecer completamente.

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