domingo, agosto 03, 2008

::: Versos Tristes :::
Ana Paula Mangeon

Palavras que nem sabes que disseste
eu sei e ouço. Já não é necessário som.
Conheço tuas minúcias, tuas sutilezas,
essa miséria de luz que carregas.
A energia funesta que emanas na presença e na ausência.

Conheço teus monocromas
teus gritos abafados n'alma
tuas lágrimas cristalizadas
teu sorriso em pó, instantâneo.
Enxergo todos os teus dramas e tuas mentiras.

Dias perdidos, horas desperdiçadas
o bem querer tolhido, rejeitado.
Tuas questões, tua melancolia.
Melancolia que é tua, não é minha.
Teus problemas abstratos,
Tua autopiedade metafísica.
Sei de cór a tua ladainha.

Palavras que nem sabes que disseste
eu já ouvi e não mais ouço.
Lavei a alma, irrompeu-se em mim a catarse.
A resignação que me habitava o corpo não mais existe
Livrei-me, enfim, da maldição de saber ler o teu olhar,
o teu olhar distante que só me recitava versos tristes.

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