domingo, janeiro 06, 2008

::: Gacela de la Huida :::
Federico García Lorca

Perdi-me muitas vezes pelo mar, com o ouvido cheio de flores recém-cortadas. Com a língua cheia de amor e de agonia, muitas vezes me perdi pelo mar, como me perco no coração de alguns meninos.

Se em algum momento achei ter me encontrado, vi a sua embarcação e soube da minha ingenuidade. No fim, são apenas nuvens e você se escondendo atrás delas. Apaguei todas as minhas certezas, esqueci as minhas vontades e fiquei só. E não há solidão maior que a dúvida. Por um instante, acreditei que você seria a minha bússola.

Porque as rosas buscam em frente uma dura paisagem de osso. E as mãos do homem não têm mais sentido que imitar as raízes sobre a terra.

E essa angústia. Essa ânsia de precisar de algo que não se tem. Porque os caminhos a minha frente não me satisfazem. Eu apenas sinto essa paisagem que não muda, como esses passos que andam em círculos, como esse sol que sempre volta para o mesmo lugar. Eu só queria um grito. De socorro, de agonia, de alegria. De amor.

Como me perco no coração de alguns meninos, perdi-me muitas vezes pelo mar. Ignorante da água, vou buscando uma morte de luz que me consuma. (...)

Nenhum comentário: