quarta-feira, junho 18, 2008

::: Catarse Publicitária :::
Lula Vieira

Uma das personalidades mais fascinantes e ao mesmo tempo mais imprevisíveis que já existiram no mundo da propaganda foi o Alfredo Monteverde, dono do Ponto Frio. Era um homem brilhante, nervoso, criativo, capaz de reagir a uma idéia com um enorme entusiasmo ou ataques de fúria. Um temperamental admirável.

Conta a lenda que um supervisor de atendimento estreou na conta do Ponto Frio, na época SGB, exatamente no dia de uma apresentação de uma campanha. Era uma daquelas colossais que o varejo fazia, com verbas imensas, capaz de mobilizar uma população inteira.

Acontece, que, naquele dia, o Monteverde estava com a macaca. Após o ritual de apresentação que terminava com a sala de reuniões parecendo uma feira. Com layouts cobrindo a mesa e as paredes, fez-se o conhecido silêncio da expectativa. Monteverde começou a falar com a voz muito cansada, denotando um esforço enorme para se controlar.

E foi demolindo cada idéia, cada anúncio, detalhe por detalhe. Do tema aos diversos títulos, layout por layout ele ia criticando tudo sem nenhuma piedade. E, à medida que falava, ia ficando irado. Da posição comedida e (quase) educada do início, foi passando para o insulto. A campanha que tinha alguns erros foi ficando cada vez mais uma merda. Os criadores que no começo tinham apenas se equivocado no enfoque passaram a ser um bando de imbecis – depois veados e, dois layouts depois, simplesmente filhos da p. Da agressão verbal, Monteverde passou para a agressão física. Já descontrolado, jogava textos, planos e storyboards em cima das pessoas. Trouxe à baila a mãe e o pai da agência inteira, até que, de repente, ele puxa um layout da mesa e derruba um cinzeiro de cristal. Completamente desesperado, o novo supervisor reagiu à altura do desvario geral. Antes que o cinzeiro chegasse ao assoalho, deu-lhe um bico que o fez atravessar a sala e arrebentar a vidraça. Ouviu-se uma ensurdecedora explosão seguida do barulho de vidro caindo e, logo depois, os gritos vindos da rua.

Mais uma vez fez-se silêncio, desta vez, aterrador. Um enorme buraco aparecia na janela. Cacos, pedaços de campanha e cadeiras viradas pelas pessoas em fuga dava, à sala um aspecto de Bósnia – ou melhor Kosovo. Dava para ouvir o arfar apavorado do contato. O que dera nele para fazer aquilo? Monteverde respirou fundo, deu um tapinha no ombro do contato e disse:

- Bem, mas a campanha também tem coisas positivas. Vamos reexaminar tudo.

E começou a reconsiderar suas próprias opiniões, cantando pedaços de papel pelo chão e reconstruindo alguns anúncios. O contato olhou para Monteverde fixamente. Moveu os lábios num esforço para falar, torceu as mãos, arregalou os olhos. E começou a chorar convulsivamente. Só faltou fechar a cortina como numa ópera.

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